domingo, 12 de janeiro de 2014

Superman através dos tempos: Quando pedras coloridas desafiaram a lógica

Superman através dos tempos: Quando pedras coloridas desafiaram a lógica

No artigo anterior falamos sobre os primórdios do Homem de Aço, na chamada Era de Ouro dos quadrinhos, quando seu mundo ainda era cinzento e (a princípio) ele era capaz de saltar apenas os altos prédios de então, não movia planetas e, entre os poderes conhecidos atualmente, o mais famoso era a supervisão. Ele combatia senhores do crime locais, cientistas loucos e comediantes surtados. Se esseSuperman era basicamente um homem forte circense que resolveu ajudar o povo, a versão que o sucedeu vestiria o manto messiânico que foi apenas sugerido nas primeiras histórias e deixaria bem claro que ele era um estranho visitante de outro mundo – sendo ‘estranho’ a palavra da vez na maioria dos casos.
A partir de 1954, quando as editoras quase fecharam e as que perduraram foram obrigadas a adequar o foco de seus personagens às novas leis impostas pelo Código de Ética dos Quadrinhos, qualquer traço de erotismo, crime ou algo capaz de incentivar a violência em seus leitores foi retirado ou amenizado das histórias. Com isso, ficção científica e fantasia, elementos presentes mas não a base da série até então, ganharam mais destaque.
Mort Weisinger
Sob a batuta do editor Mort Weisinger, o personagem começou a ter seus poderes e origens recontados para os dias de então. A mudança começou com o afastamento de Jerry Siegel e Joe Schuster, os criadores dos dois títulos do personagem.  Desde que assumiu o cargo, Weisinger demonstrou ter ideias diferentes das dos autores e foi aos poucos se apoderando da criação, o que terminou gerando um longo processo judicial pelos direitos do personagem que a editora venceu recentemente, mas que a obrigou a gerar todas as mudanças que hoje lemos nos Novos 52.
A mudança de narrativa – que em alguns momentos foi sutil, mas em outros chegou a ser grosseira – marcou o surgimento do que na década de 60 viria a ser o Multiverso DC. Conveniou-se crer que os personagens que retornaram a partir de 1956 eram de uma nova terra, a Terra 1, enquanto os personagens da Era de Ouro habitavam a Terra 2, onde suas vidas seguiram outros rumos. Alguns envelheceram e casaram, outros se aposentaram e foram substituídos por seus sidekicks e/ou sucessores.  Os personagens da Terra 1 seriam mais baseados na Ficção Científica e fantasia.
Capa da Superboy nº 1
Alguns dos conceitos do novo Superman vieram de seus criadores, outros foram mandate da editora, pois ela queria manter o título vivo e acessível à uma nova geração de leitores, já que a primeira, aquela que havia crescido tanto com os pulps quanto com as edições da Era de Ouro, começava a assumir profissionalmente suas máquinas de escrever e pranchetas.
Pouco antes de serem convidados a se retirar dos títulos do personagem que criaram, Siegel e Schuster inventaram vários conceitos que adaptavam o herói à nova realidade editorial. Uma delas foi o Superboy, que narrava as aventuras do jovem Clark Kent. Parte de sua origem Kriptoniana foi contada nessas histórias, assim como os leitores foram finalmente apresentados aos seus pais adotivos e a outros elementos da cidade de Smallville, como Pete Ross e Lana Lang - ele, o único a conhecer o segredo do amigo, e ela, o primeiro amor do personagem, que mais tarde também trabalharia com Clark e formaria um triângulo amoroso com ele e Lois Lane. Outro elemento importante de sua fase adolescente é aLegião dos Super-Heróis, adolescentes oriundos do século XXX que, inspirados nos feitos do personagem, resolvem voltar ao passado e convidá-lo (sempre que possível) a participar de suas aventuras.
Supergirl e Brainiac 5
Mort Weisinger, o já citado editor e divisor de águas no universo do personagem, decidiu explorar todas as novas possibilidades narrativas. Foi quando conhecemos melhor o mundo de Krypton, seus moradores e as consequências de suas histórias pregressas em seu (até então) único sobrevivente, designação esta que cairia por terra já em 1956 com o surgimento de Supergirl, sua prima adolescente e o primeiro dos ecos de seu planeta natal que passariam por suas páginas. Sobrevivente da cidade de Argo, ela foi arremessada no espaço e ficou à deriva até que, ameaçados pela morte iminente, os pais de Kara Zor-El decidiram repetir o experimento que levou seu primo à terra.
Tanto a Supergirl quanto coadjuvantes e vilões (das fase jovem e adulta) participaram ou foram citados em histórias da Legião. Um interessante elo de ligação entre passado e futuro é o legado do título Brainiac. Entre as fileiras da legião está o quinto Coluano a ostentar o título, Brainiac 5.  Você não conhece o original? Continue lendo.
Em pouco tempo descobrimos que, antes da explosão de Krypton, uma de suas cidades havia sido miniaturizada e retirada do planeta pelo coluano Brainiac, o que manteve centenas, talvez milhares até, de alienígenas vivos dentro de uma garrafa; conhecemos a zona fantasma e seus mais cruéis habitantes: o general Zod e seus subordinados, Non e Ursa, que aderiram ao movimento separatista e foram banidos para a terrível zona. O sobrenome “L” passou a ser escrito conforme é pronunciado, surgindo assim a Casa de EL, uma das mais importantes famílias do planeta morto. Por fim, é explicado o motivo de Jor-El ter enviado seu filho, Kal-El, para a Terra: uma série de movimentações teutônicas instabilizaram o núcleo do planeta. Mediante à inevitável condenação, o cientista denunciou o apocalipse anunciado a seus pares, que no entanto o ridicularizaram. Para salvar o bebê, Jor-El encontrou um planeta onde o sol amarelo daria a seu filho os poderes de um deus.
Lyla Lerrol
Nessa fase, a falta de Krypton era “menos sentida”, pois através da super-autohipnose e outros métodos bizarros, o personagem não só passou a lembrar de um planeta que nunca conheceu como o visitou várias vezes antes de sua destruição. Algumas delas ao lado de Jimmy Olsen ou Batman, que se alternavam como parceiros de Superman na dupla Asa Noturna e Flamejante, heróis que atuaram durante fases específicas do planeta. Artefatos e habitantes kriptonianos foram uma presença constante nessa época e, durante as viagens no tempo, ele chegou a se casar com Lyla Lerrol, famosa atriz da Krypton pré-holocausto.
Um dos souvenires do planeta, a Kriptonita, foi uma grande pedra no sapato do personagem até os anos 60/70. Minérios de diferentes cores, com diferentes efeitos sobre o personagem, começaram a aparecer, criando histórias que variavam entre o interessante, o curioso e o bizarro, transformando não só sua personalidade como gerando alterações físicas. Nesse período, ele se tornou bebê, gigante, macaco, ganhou um imenso cérebro futurista, vilão ou qualquer outro absurdo capaz de vender revistas.
Superman Vermelho e Superman Azul
Problemas causados pelo mau uso da ciência, viagens no tempo, fusão de personagens – todo e qualquer roteirismo era válido na Era de Prata. São dessa fase as histórias Superman Vermelho e AzulSuperman/Batmancomposto e a série com os filhos tanto do Superman como do Batman, que dava continuidade ao legado dos personagens.
Tão bizarro quanto possa parecer, nos anos 50 todos os personagens ganharam mascotes; os da família EL beiraram o absurdo: Krypto, o supercão, foi criado para acompanhar Superboy e teve algumas aventuras solo com outros donos. Como se não bastasse um cão, os sobreviventes do Pet Shop Mundo Cão Kriptoniano incluíram os dois mascotes de sua prima:Malhado, o super-gato, e Cometa, um cavalo por quem ela se apaixonou durante um tempo.
Capa “A namorada do Superman, Lois Lane”
Essa foi a era que não teve medo do ridículo e os personagens tiveram momentos no mínimo constrangedores – a maioria resultado de tentativas de adaptar os personagens à manifestações da cultura pop da época.  Surgiu uma Lois Lane feminista e mais independente, assim como Jimmy Olsen ganhou uma publicação própria. Com isso, “A namorada do Superman, Lois Lane” e “O amigo do Superman, Jimmy Olsen” foram responsáveis por capas e histórias onde Lois se tornava uma mulher negra, Jimmy se travestia, os dois pregavam ou eram vítimas de alguma piada prática do kriptoniano, que em uma das capas de Lois é desenhado dando palmadas na bunda da personagem. E este não foi o único corretivo aplicado pelo kriptoniano em um dos dois personagens.
Se o começo da Era de Prata pudesse ser resumido em uma frase, seria: “Nada foi sagrado; tudo foi experimentado”.
Bizarrices à parte, é sempre bom citar que foi nesta época que o personagem passou a participar das aventuras futuristas da Legião dos Super-Heróis e daLiga da Justiça.
Sr. Myxpltk
E falando em Bizarro, o Superman inverso tornou-se um inimigo tão famoso nessa fase que ganhou um mundo só dele, habitado por várias cópias do herói e de Lois Lane. Mas assim como outro adversário, o  Sr. Myxpltk, Bizarro retornava de tempos em tempos para aporrinhar o homem do amanhã com suas trapalhadas.  Também foi nessa época que definiram a magia como uma das fraquezas do kriptoniano, criando personagens ainda menos usuais para combatê-lo. Entre eles, o próprio Satã, que foi um inimigo constante em fases específicas.
Felizmente também foram criados inimigos à altura do homem que movia planetas e fazia diamantes apertando carvão com a mão. Darkseid e Mongul foram bons exemplos. E, claro, Lex Luthor, que voltava como um vilão tecnológico que odiava o Superman por ter perdido sua cabeleira ruiva durante uma aventura com o Superboy. Luthor tornou-se o nêmese definitivo do Superman, aparecendo em praticamente todos os filmes e séries do personagem.

Julius Schwartz
A partir de 1973, Julius Schwartz decidiu remexer o status quo do Homem de Aço. Surgiam Morgan Edge e a criatura de areia. O primeiro contratou Clark Kent e seus coadjuvantes famosos, que migraram do clássico Planeta Diário (como o jornal passou a ser chamado no final dos anos 40/50) para a Rede Galáxia de Telecomunicações. A TV havia chegado para ficar e Lois e Clark se tornaram âncoras de telejornal, mas alternavam funções com a outra equipe de Perry White. Nas mesmas edições, após a perda da radioatividade de toda a Kryptonita do planeta, o Homem de Aço tornou-se imbatível, literalmente invulnerável a tudo. Entretanto, o incidente abriu uma brecha para o universo de antimatéria deQward, origem de uma entidade que assumiu a forma de umSuperman de areia, a princípio com uma imagem mais rústica, mas que ia ganhando mais definição conforme continuava roubando energia do Kriptoniano. Os dois se enfrentaram, mas compreendendo que poder absoluto pode corromper absolutamente, Superman o deixou partir. O personagem ficou no limbo, sendo utilizado em histórias menos expressivas, mas sua aparição marcou a primeira redução de poderes do herói, que apesar de ter sido apagada gradativamente da continuidade, foi retomada em 1986, de forma mais natural com a origem recriada por John Byrne.
A seguir: O que aconteceu ao Superman da Terra 1? Alan Moore e John Byrne adaptam o personagem para o mundo dos anos 1980. Clique aqui e leia primeira e a terceira parte deste especial sobre Superman – O Homem de Aço.

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