À direita William Hartnell, o primeiro Doutor
Dia 23 de novembro de 1963 fomos introduzidos a uma aluna excepcional que vivia num ferro velho com seu avô excêntrico, interpretado pelo inglês William Hartnell, famoso por filmes de faroeste. Quando os professores da menina tentaram conversar com o avô sobre as notas da adolescente, um acidente fez com que o grupo vivesse várias aventuras através do tempo e do espaço, dentro e fora da T.A.R.D.I.S., nave espacial tetradimensional cuja aparência exterior, devido a um erro dos professores, se assemelha à de uma cabine de polícia inglesa.
Começavam as aventuras do Doutor. Mas que doutor? Doutor Quem? Apenas o doutor, mas o nome da série traduzido é um trocadilho que comporta as duas frases, tanto que é feito toda vez que o protagonista é apresentado a um novo personagem. Por conta de um problema de saúde de Hartnell, o primeiro Doutor, que estava com a ‘avançada idade’ de 55 anos no começo da série, inventaram a regeneração, permitindo que outros atores interpretassem o mesmo personagem.
Matt Smith
De 1963 a 1989, passando pelo filme de 1996, e finalmente com a retomada em 2005, onze doutores viajaram pelo tempo e pelo espaço ao lado de seus companions, enfrentando perigosos inimigos como Daleks, Cybermen, Anjos Lamentadores e até os Autons, bonecos de plástico animados por uma consciência coletiva. Os doutores combatem também perigos universais, como o segundo Big Bang ou a Guerra Temporal, que eliminou todos osSenhores do Tempo, casta ao qual nosso personagem preferido pertence.
Com a chegada do especial que comemora os 50 anos do personagem e com a deslanchada da carreira hollywoodiana de Matt Smith, o décimo-primeiro Doutor, chegou a hora de escolher o 12º. E foi o que aconteceu. Após uma série de especulações quanto ao substituto do atual doutor, a BBCanunciou com pouco mais de uma semana de antecedência que no domingo, dia 04/08/13, os ingleses conheceriam a nova face do Doutor.
O especial foi exibido ao vivo para quatro países: no Reino Unido foi pela BBC One e nos EUA pela BBC América, enquanto o canal Space veiculou no Canadá e a ABCTV na Austrália. O resto do mundo teve de correr atrás de streamings confiáveis.
Pôster comemorativo de 50 anos de Doctor Who
Às 19 horas (horário inglês), os whovians puderam ver, além da despedida de Matt Smith, comentários e pequenas entrevistas com atores que já passaram pela série, como Peter Davison (5º Doutor, sogro do 10º e pai de Georgia Moffett, atriz que interpretou a filha do doutor na série e se casou com David Tennant), Colin Baker (6º doutor), Katy Manning (companion do terceiro doutor) e até celebridades inesperadas, como Stephen Hawking.
O ponto alto do programa comandado pela apresentadora inglesaZoe Ball foi o anúncio de que, a partir de dezembro, o vencedor doOscar e do Bafta Peter Capaldi seguiria como o personagem. Contrariando as tendências atuais de escolher quase desconhecidos, Capaldi é um ator e diretor escocês de 55 anos (mesma idade de William Hartnell) que, além de ter participado de filmes como “Ligações Perigosas“, “Atirando em Peixes“, “Mr. Bean” e “Guerra Mundial Z“, não é um completo estranho ao universowhovian. Já interpretou personagens tanto na série original, quanto em “Torchwood“, derivado adulto da série.
A escolha não apenas foi na contramão das anteriores como gerou várias críticas negativas de fãs mais novos, principalmente do sexo feminino, que estavam se acostumando a comentar o quanto os atores que interpretavam o personagem eram sexy.
Peter Capaldi, o 12º Doutor
Por outro lado, situações de tensão sexual/amorosa entre o personagem e algumas companions deixaram alguns whovianscom medo de que a série se transformasse em um novo Crepúsculo, principalmente após a polêmica contratação deMatt Smith, um dos mais jovens atores a interpretar o personagem. Supostamente, a escalação de um ator mais maduro irá resolver não só esse problema como, de quebra, irá também recuperar o aspecto paternal do Doutor e a dinâmica da série original.
O que esperar deste novo Doutor? Qualquer coisa. Tudo pode acontecer, uma vez que as personalidades mudam ao longo das regenerações, fazendo dele ora mais sociável, como os mais recentes, ora mais irascível, como o primeiro, ou até mesmo um psicopata capaz de matar suas companions, como o sexto. Segundo a cronologia antes da retomada da série, esta é a penúltima encarnação, a que deu problemas e gerou um vilão. Entretanto, no episódio final da última temporada foi introduzida uma regeneração do personagem que serve como elo de ligação entre as duas fases da série. Devido a sua participação no maior genocídio da história, ela supostamente não utilizou a alcunha “Doutor”. Resta saber se esta regeneração (interpretada por John Hurt) irá assumir a alcunha de The Valleyard e, mais importante, se – como tem sido sugerido na série atual – o Doutor tem mais de 13 regenerações, um número criado na versão original, quando não se imaginava que a série chegaria em 2013 e se tornaria o mais longevo seriado com atores ainda em exibição.