domingo, 12 de janeiro de 2014

Superman Através dos Tempos: Interlúdio 1 – O pop se autoconsumirá

Superman Através dos Tempos: Interlúdio 1 – O pop se autoconsumirá


Em 1961, a Marvel lançou Fantastic Four 1 e mudou as regras do jogo, forçando a concorrência a se adaptar ao seu estilo narrativo com um universo compartilhado, personagens com pontos fracos e questionamentos sociais ou problemas pessoais. O marqueteiro Stan Lee, que fez o argumento de todos os títulos até meados dos anos 60, criou um ambiente intimista em que todos os leitores se sentiam parte do clube, e isso afetava a forma como as histórias eram recebidas. Ao mesmo tempo, a editora foi a primeira a ousar e quebrar o Código de Ética dos Qadrinhos com a famosa história do Aranha em que Harry Osborne, chapado de LSD, quase saltou de uma janela.
Denny O’Neil e Neil Adams
Com a abertura promovida por Stan Lee, roteiristas mais antenados com o momento atual aproveitaram para fazer os quadrinhos que sua geração queria ler. Surgiu a Era de Bronze, que abrangeu parte dos anos 70 e povoou o universo das HQs com histórias que tentaram ser mais realistas ou deixar o panteão divino da DC Comics mais humanizado. O grande responsável foi Denny O’Neil, autor de alguns textos para a Rolling Stone antes de finalmente entrar para os quadrinhos e se tornar criador de marcos da Era de Bronze. Mais conhecido como o roteirista responsável por, ao lado de Neil Adams, deixar oBatman aos poucos mais sombrio e apagar de vez a sombra do seriado camp dos anos 60, ele também foi o criador de momentos memoráveis de outros heróis.
George Reeves
Entre suas passagens – algumas famosas, outras nem tanto – estão a já citada “Saga da Criatura de Areia“, que enfraqueceu o Superman, a “Saga Lanterna Verde & Arqueiro Verde” (1971), na qual eles “pegaram a estrada” e foram lidar com problemas socioculturais terrestres, e a primeira vez que Diana Prince, acompanhada por seu novo mentor, o misterioso oriental conhecido como I-Ching, abandonou o manto da Mulher Maravilha para trajar roupas inspiradas no visual mod de Emma Peel, personagem do seriado inglês “The Avengers” que se tornou um James Bond de saias.
Outro movimento começou a ser sentido pela editora: com o surgimento da “Pop Art” e da “cultura pop”, o interesse de outras mídias pelos quadrinhos havia retornado. Não era novidade, afinal, o processo iniciado pelos Studios Fleischercom o Superman da Era de Ouro, continuou com os seriados semanais para cinema estrelados por Kirk Alyn: “Atom Man vs. Superman“. Entretanto, o Superman desta geração teria o rosto do ator George Reeves, que estrelou o primeiro longa do personagem “Superman and the Mole-Men” e, mais tarde, estrelou a primeira série para TV do personagem, “Adventures of Superman“. Ainda assim, os personagens ficaram fora da telinha durante algum tempo até o boom do Marvel Action Hour (1966), que incentivou a Fox a lançar no mesmo ano o seriado ”Batman“, estrelado por Adam West, e a Filmation a lançar a animação “New Adventures of Superman“, seguida por “Superman/Aquaman Hour of Adventure“, a primeira a introduzir animações de outros heróis, e fechar a super trilogia do estúdio com “The Batman/Superman Hour“, que adaptava o Batman da Fox.
Seriado Batman dos anos 60 com Adam West e Burt Ward
Os personagens haviam se tornado ícones da cultura pop, quase que de domínio público, comercializados em lancheiras, cadernos, roupas, assim como em qualquer consumível onde suas imagens coubessem. Como diria Andy Warhol, “O pop irá se autoconsumir”. Foi o mesmo com os quadrinhos. A estética estava tão arraigada que alterações abrasivas como as propostas por O ‘Neil não poderiam ser permanentes ou se reverteriam numa queda de licenciamentos.
Durante anos, a DC tentou evitar choques culturais e quebras de expectativa, como no caso da meninaque comprou a revista Red Hood and the Outlawsimaginando encontrar a Estelar dos Jovens Titãs, sua cândida heroína de infância, e encontrou uma periguete.
Os Superamigos: primeira formação com Wendy, Marvin e Supercão e depois com os Supergêmeos Jan, Jayna e Gleek
A história se tornou um meme graças aos detratores das alterações ocorridas nos personagens há dois anos, realizadas sob a desculpa de aproximar mais os personagens de suas versões nos cinemas e animações e assim atrair mais leitores para a decadente mídia dos quadrinhos.
O curioso é que enquanto os quadrinhos tentam com todas as forças manter sua estrutura para que fãs de todas as idades reconheçam os personagens, as outras mídias não têm o mesmo purismo e interpretam os personagens conforme as necessidades de seu público, criando a discrepância que a nova direção da editora tentou amenizar.
Falando nisso… Você sabe quais foram as mais importantes alterações que o escoteiro azulão sofreu devido a outras mídias?
O primeiro caso conhecido de adaptação é o caso dos Superamigos, série infantil surgida a partir de uma parceria da Editora com o estúdioHannah–Barbera. Diferente da Filmation, que com raras alterações adaptou quase fidedignamente as aventuras dos personagens, a produtora tinha o hábito de simplificar os personagens utilizados e inserir alívios cômicos na pele de coadjuvantes e animais. A série durou de 1971 a 1985, teve várias fases e tornou famosos os personagensWendyMarvin e Supercão, além de inserir ZanGleek e Jayna, osSupergêmeos, no inconsciente coletivo de toda uma geração.
Em resposta ao sucesso, a editora lançou um título homônimo com histórias dentro deste universo que explicariam alguns detalhes deixados de lado na animação. Descobrimos que os três primeiros adolescentes, sobrinhos de Bruce Wayne, foram treinar com outros mestres após saírem da série. Aprendemos também que, apesar de conter membros da Liga da Justiça, o título era na verdade uma citação ao fato de os personagens serem os “superamigos” de seus pupilos adolescentes. Ao longo das várias fases da série vimos desde diversas interpretações do Superman – que incluiam a que resultou dos combates infantis em que Myxpltk, um duende da quinta dimensão, o transformava num fazendeiro – até a primeira morte do personagem na mídia, ocorrida durante a última temporada, quando decidiram deixar o seriado mais adulto. Superamigos bebia da incansável fonte de absurdos da chamada “Era de Prata”, na qual, desde que fosse interessante, qualquer história poderia e deveria ser contada, em detrimento tanto da continuidade quanto da personalidade de seus personagens.
Superman - O Filme de Richard Donner de 1978
Christopher Reeve, o rosto definitivo do herói
Mas foi em 1978, quando o mundo inteiro finalmente acreditou que um homem poderia voar, que o personagem sofreu sua maior influência transmídia. “Superman – O Filme” de Richard Donner, estrelado por Christopher Reeve e Gene Hackman, foi um estrondoso sucesso e, mesmo com três continuações não tão memoráveis, definiu o Superman das gerações seguintes. Até recentemente, quando ganhou uma estranha semelhança comHarry Potter, muitos ainda o desenhavam com a cara do finado ator numa forma de homenagear seu ícone de infância. A primeira vez que isso ocorreu foi em 1988, quando o estúdio Ruby Spearscontratou o desenhista Gil Kane para criar model sheets do personagem inspirados no filme para uma adaptação que narraria as histórias do personagem conforme o universo pós crise da editora.
O pop se autoconsumiu e, pela primeira vez na história, uma série adaptou uma grande mudança recente ocorrida devido às necessidades derivadas do surgimento da própria cultura pop.
Uma crise se aproximava e, entre 1985 e 1986, todo o universo DCseria assolado por ela.
Mas o que foi a crise e quais os seus efeitos no Homem do Amanhã? Como vimos, ele não é exatamente invulnerável à cultura pop. Como ele seria afetado pelos anos 80? Será que seu coração de vidro se quebraria com o fim das cabines telefônicas?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Artes Inéditas de Histórias da Bíblia

Apesar de ter tido uma edição publicada, a proposta da série Histórias da Bíblia era narrar todas as histórias contidas neste que é um dos ...