domingo, 12 de janeiro de 2014

Superman através dos tempos : As novas aventuras de um imigrante ilegal

Superman através dos tempos #5: As novas aventuras de um imigrante ilegal


Um novo Superman para o final do milênio.
Criada pelo renomado cartunista John Byrne e com arte final de Dick Giordano, a minissérie em cinco partes O Homem de Aço nos apresentou um Superman diferente, mas ainda assim tentou aproveitar todos os elementos do passado com uma releitura moderna.
Clark Kent, cria de Smallville, torna-se Superman aos 18 anos depois de descobrir a verdade sobre sua origem alienígena. Nessa versão, após os Kent revelarem a matriz gestacional que esteve guardada anos em seu porão, o herói começa a ter contato com o mundo árido e tecnológico de Krypton, onde pares eram escolhidos por compatibilidade genética, filhos não eram gerados por trocas de fluidos e Jor-El e Lara Lor-Van formavam um casal atípico por terem se unido devido às emoções que nutriam um pelo outro. Não era a Kripton de seu pai. De certa forma se aproximava dos conceitos usados no filme da década anterior que ainda reverberavam pelos quadrinhos do herói.
Superman vs. Metallo
Sem a idolatria por seu planeta morto e com o desenvolvimento gradual de seu poder, o que eliminou seu passado como Superboy, o personagem teve tempo para se desenvolver não só como pessoa, mas como americano nacionalista dos anos 80.
Devido à essa postura mais nacionalista, Clark criou uma relação familiar única com seus pais adotivos e com o Kansas, cuja presença dentro de suas histórias aumentou a ponto de ele dar escapulidas para comer a torta de sua mãe ou montar cercas com o pai, reforçando sua ligação com o coração e a alma da América do Norte. Nessa versão, o famoso uniforme foi costurado por sua mãe usando tecido comum e ele teve um grande prejuízo, pois suas capas eram destruídas com grande facilidade. Pete Ross e Lana Lang (nesta versão ela saberia a identidade secreta) ganharam ares mais locais e seu relacionamento amoroso com Lana foi mais sério e realista do que nas versões anteriores. Mais humano e menos divino, o novo Homem do Amanhã seria bem mais fraco e, apesar de todas as ressalvas do pai em relação a possíveis ferimentos e acidentes causados pelo uso de seus poderes, ele ainda conseguiu jogar rúgbi durante o colegial e ter outras realizações até então impensadas para o tímido e atrapalhado repórter de antes.
Seus laços com o Planeta Diário permaneceram e, pela primeira vez em quase uma década, ele voltou a trabalhar no periódico ao lado de todos os seus coadjuvantes clássicos. Seu relacionamento comBatman, por outro lado… Antes unha e carne, na nova encarnação a dupla foi influenciada pela nova versão mais sombria do Homem-Morcego e a grande amizade tornou-se uma relação fundamentada apenas no respeito. Com o tempo e vários autores depois, a coisa mudou um pouco de figura. Um bom exemplo é o fragmento de Kriptonita que já foi o coração deMetallo, usado como anel para conter o homem de aço por Lex Luthor (que perdeu a mão devido à radioatividade da pedra) e foi parar num cofre dentro daBatcaverna, dando ao seu dono poder sobre a vida e a morte do azulão.
Reflexo da América xenófoba e ultra patriota da década, a nova Metrópolis vivia dias delicados e era constantemente atacada por terroristas, republiquetas do bloco oriental ou que espelhavam países comunistas próximos. A postura nacional de então foi questionada quando Bloodsport, um Rambonegro, entrou em rota de colisão com o campeão da cidade. O duelo de ideologias entre a cópia do famoso herói de cinema e o estrangeiro ilegal (tradução literal da frase “illegal alien”), que precisou reafirmar seu compromisso com as estrelas e listras da bandeira americana, não passou de uma crítica aberta e sem danos à cultura pop de então – postura que no fim mais reforçou a humanidade e a bondade do Super do que questionou seu papel no imaginário popular.
Mas este não foi o seu maior embate ideológico. Seu maior vilão havia voltado e também sofreu reformulações.
Lex Luthor e seu anel de Kriptonita
Lex Luthor havia se tornado a encarnação do sonho dosyuppies, um self made man inescrupuloso que fez sucesso vendendo suas patentes para o governo e criando seus projetos por debaixo dos panos. O ambicioso Luthor se sentiu melindrado ao ser confrontado pela idolatria ao estranho visitante de outro mundo que, em pouco tempo, conseguiu tudo que ele levou uma vida para conquistar.
Diferente de sua versão anterior, que culpava o herói por sua calvície, este perdeu os cabelos (e ganhou peso) de forma gradual.  Esta versão também insinuou um triângulo amoroso com Lois Lane, interesse amoroso do Kriptoniano, uma vez que ela e Luthor já haviam tido um rápido affair.
Na década em que Salt ‘n’ Pepa pregavam “Let´s Talk about sex, Babe”, os personagens não só estavam descobrindo a própria sexualidade como a demonstravam de forma sutil. A Lois Lane moderna abandonou seu lado virginal e assumiu que, antes de ser coberta pelo manto vermelho com o “S” amarelo, já havia tido outros parceiros; um deles foi o próprioSenhor Myxpltk, disfarçado em sua primeira aparição pós crise.
Superman em uma superprodução...pornô
Clark também não ficou sozinho. Contrariando a sugestão de “Homens de Aço, Mulheres de Kleenex”, conhecido artigo que afirmava que uma mulher normal morreria caso o Superman se empolgasse, “Clark Jr.” se manteve bastante ocupado durante a fase Byrne. Não só com supermulheres, mas com humanas normais. De Lana Lang à paixão platônica pela sereia Lori Lemaris, passando pela rápida ficada com a Mulher Maravilha e o constrangedor filme pornô que gravou com a Grande Barda (quando os dois foram hipnotizados por um fugitivo de Apokolips), uma versão mais fraca do personagem teria os envolvimentos românticos que quisesse.

Superman comemora os 50 anos com a Mulher Maravilha
Nessa fase, ao menos no primeiro momento, a Kriptonita não era tão sortida quanto em sua versão anterior. A Kriptonita vermelha, por exemplo, foi criada em laboratório. E diferente de ser uma pedra mágica, o fragmento assassino de Kripton tornou-se um tipo de isótopo radiativo. A paixão de Byrne pela ficção científica foi sentida em suas histórias, que explicavam que o corpo do alienígena era uma bateria solar e que, justamente por isso, quando totalmente carregado ele se tornava “Super”. Também foi dito que sua visão de calor tinha o mesmo princípio dos micro-ondas e que seu voo era baseado no conceito de mente sobre matéria. Tal qual os monges orientais, o poder de sua vontade fazia pequenos milagres.
E para não dizer que Kripton foi totalmente erradicado da continuidade, elementos como a Fortaleza da Solidão e a Zona Fantasma foram reapresentados.  Seu planeta continuava morto, era apenas uma lembrança. Ainda assim, tanto sua história quanto suas tecnologias foram resgatadas devido ao Erradicador, um artefato que por um lado causou problemas, mas por outro foi útil em várias situações devido à sua programação.
Predador
Foi introduzida uma nova Supergirl, criada pelo heroico Luthor de um universo paralelo assolado por versões alternativas doGeneral ZodNom e Ursa, inimigos que forçaram nosso herói a tomar medidas extremas. Como consequência, uma séria crise de consciência o levou a peregrinar sem rumo pelo universo em busca de si mesmo. Quando voltou para a terra, ainda sob o efeito do stress, assumiu inconscientemente a identidade do Predador, um dos heróis urbanos de Metrópolis.
Os leitores tinham um velho herói para os novos tempos. E por um bom tempo eles foram felizes e sabiam. Até que nos anos 90, quatro desenhistas fundaram uma editora que anunciou a morte de todos os heróis de seus pais.

Não percam os próximos capítulos de Superman através dos tempos.

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