sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Entrevista com o Batman dos protestos

Publicado originalmente no Impulso HQ
Foto: Reuters
Após anos de apatia, o povo foi para as ruas e lutou por seus direitos. Quase todos os estados se movimentaram. No Rio de Janeiro a movimentação foi combatida com rigor. Seguiram-se tiros, granadas e muito gás lacrimogêneo. Mas toda cidade tem o herói que precisa e num momento sombrio, quando mais precisamos alguém lutou por nós. Ele, o Batman, que enfrentou os poderes e se engajou nas mais diversas causas e até foi preso por se recusar a tirar a máscara. Ele, o Batman dos protestos, que ganhou o mundo através das manchetes dos mais importantes meios de comunicação. Entrevistamos o nosso herói mascarado e descobrimos suas motivações. Leiam a seguir:
Foto de Christophe Simon / AFP
Impulso HQ: O Brasil conheceu o Batman do Rio, mas quem é o homem por trás da máscara?
E.M.: 
Meu nome é Eron Morais de Melo, tenho 32 anos nascido em 19 de abril de 1981, sou protético (faço dentaduras, roach, pivôs, etc.) e sou casado a três anos com a Aline. Sou um cara simples e brincalhão. Gosto de sair, passear, gosto muito de festa e música. Sou como a maioria das pessoas, só um pouco mais “doido”.
IHQ: Como fã de quadrinhos, você produz ou só lê? Além do Batman quais outros personagens?
E.M.: 
Sou fã de quadrinhos e de animações também, principalmente ligados aos heróis de HQ. Os heróis que mais gosto são o Batman e o Wolverine, mas também curto os X-Men, Liga da Justiça, Vingadores e etc. Na infância sonhei em produzir HQs e até mesmo desenhava como diversão, fiquei apenas lendo mesmo (é menos trabalhoso e mais divertido).
IHQ: Por que ir pra rua caracterizado como o personagem? E é claro, por que o Batman?
E.M.:
 O Batman é um herói que luta contra o sistema corrupto de sua cidade. É um símbolo de justiça contra a corrupção é um símbolo que traz esperança de mudança, um herói! Além de ser um fã de carteirinha, o que mais me chama a atenção no personagem é ele ser apenas um homem ser poderes sobrenaturais mas que mesmo assim pela sua perseverança, e inteligência ele faz a diferença e torna a sua cidade e o mundo um lugar melhor. A maior e mais importante característica do Batman é NUNCA DESISTIR.
Foto de YASUYOSHI CHIBA, AFP/Getty Images
IHQ: O que você acha da lei sobre as máscaras? Você chegou a ser preso por causa dela mesmo sem jamais ter escondido sua identidade. É um exagero ou precisamos conter os mal intencionados infiltrados?
E.M.: 
Essa lei antimáscaras é incoerente e inconstitucional. É um retrocesso social e um ato ditatorial. Até mesmo a alegação de proibir as máscaras por causa dos chamados vândalos é uma desculpa fraca pois, se com carnaval um grupo de bate-bolas ou outros fantasiados cometerem crimes ou vandalismo, o governo vai proibir o uso de máscaras no carnaval??? É claro que não. Até porque isso já acontece e as autoridades nunca se preocuparam com os mascarados infratores no carnaval. Essa é uma lei com interesses políticos de enfraquecer as manifestações visto que AS MÁSCARAS SÃO UMA MARCA E SÍMBOLO NAS MANIFESTAÇÕES.
IHQ: Fale um pouco sobre sua prisão.
E.M.: 
Na verdade foi apenas uma detenção. Fui levado para a DP identificado e liberado em seguida. Não há previsão penal para o uso de máscaras é uma lei absurda.
IHQ: Qual a reação das pessoas ao ver o Batman? Qual o tipo de impacto sua presença causa?
E.M.: 
Graças a Deus a melhor reação possível, encaram com bom humor, me apoiam e me incentivam. Eles entenderam a MENSAGEM DE INSPIRAÇÃO E RESISTÊNCIA contra a tirania do nossos governantes.
Fote: Agência Brasil
IHQ: Você tem apoiado várias causas. Você acha que sua presença reforça estes eventos?
E.M.: 
Sim acredito que o Batman se tornou um símbolo que inspira e renova o ânimo das pessoas que estão ali presente, além de muita das vezes quebrar um pouco da tensão e fazer o momento ficar um pouco mais descontraído, as pessoas me cumprimentam tiram fotos, fazem piadas, traz um pouco de alegria também.
IHQ: Como você vê o fato de o Batman ter se sobressaído numa manifestação inspirada em outro personagem? Precisamos mais do Batman do que do V?
E.M.: 
Acredito que precisamos de heróis sim e vejo em cada brasileiro um herói em potencial, tanto o Batman com o V são símbolos muito fortes. Estamos em busca de uma revolução por um país melhor. O herói já traz consigo a imagem de mudança e esperança que as coisas podem melhorar independente de sua nacionalidade, toda cultura tem a imagem de seu herói.
IHQ: Como é ter se tornado um ícone? O Batman do Rio, O Batman que foi preso virou notícia mundial até em sites de quadrinhos. Você acha que tem inspirado outros a fazer o mesmo que você?
E.M.: 
Acho que tenho inspirado as pessoas a irem as ruas e exercerem seus direitos, sejam mascarados ou não o importante é cobrar dos nossos governantes, não deixarem eles fazerem o errado e ficarem impunes.
Foto de Marcos de Paula / Estadão / Divulgação
IHQ: Você tem algum tipo de militância ou só acredita que cada um de nós pode fazer a diferença e tem feito sua parte num momento em que todos foram “chamados pra rua”?
E.M.:
 Não possuo militância. Me vejo como um cidadão brasileiro exercendo a minha cidadania e meu direito de reivindicar melhorias e cobrar e supervisionar os governantes. E acredito que isso é um direito e dever de todo brasileiro que deseja uma verdadeira mudança no Brasil.
IHQ: Você atualizou sua máscara para ficar parecida com a do novo jogo do Batman. Você acredita que teria a mesma força se o personagem ainda fosse caracterizado da mesma forma galhofa e infantil que foi nos Superamigos ou na série de TV dos anos 1960 ou isso só é possível devido a mudança de caracterização dos anos 1990 em diante?
E.M.: 
Eu vejo o Batman das manifestações tratando de assuntos sérios como a nossa realidade política e social isso requer um pouco mais de seriedade, precisa trazer mais impacto. Nesse aspecto o Batman mais aparência mais agressiva serviria para impactar e estar dentro do contexto sombrio da nossa história.
IHQ: Como você vê nosso país e seu momento atual? Como parte de muitas manifestações, você acredita que elas estão alcançando seu público alvo ou como a imprensa costuma dizer: “Muitos tem usado um momento sério como micareta”?
E.M.: 
Não vejo esse momento como ” festa ou micareta”. Eu vejo esse momento como um marco na história brasileira. O brasileiro saiu da inércia e começou a lutar pelos seu direitos. O voto e as manifestações populares são o exercício da democracia, é preciso um complementar o outro senão nada mudará.
Foto de Fábio Teixeira / Folhapress / CP
IHQ: Na última semana você teve a companhia do Batman Pobre durante a manifestação na Lapa. O que você pensa dos outros Batmen que tem aparecido?
E.M.:
 Acho ótimo, eu desejo que venham mais Batmen, Homens-Aranha, Mulheres Maravilha, Ligas da justiça. Seria bom ter mais símbolos para dar força nas ruas.
IHQ: Aproveitar o espaço para deixar o seu recado.
E.M.: 
Brasileiros: VENHAM PARA AS RUAS, LUTEM CONTRA O SISTEMA, NÃO ACEITEM MAIS OS ATOS CRIMINOSOS DESSE POLÍTICOS QUE APENAS LEGISLAM EM CAUSA PRÓPRIA. SAIAM DA INÉRCIA E APATIA AS RUAS ESPERAM POR VOCÊS.
Governantes: VOCÊS NÃO SÃO DEUSES, SÃO SERVIDORES PÚBLICOS QUE DEVEM TRABALHAR PARA O POVO E TEM QUE OUVIR AS VOZES DAS RUAS, NÓS COLOCAMOS VOCÊS NO PODER E PODEMOS TIRÁ-LOS.

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