sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Entrevista: João Carpalhau, editor da Capa Comics

Publicada originalmente no site Impulso HQ

Eles vieram do nada e fizeram barulho.Se você ainda não ouviu falar deles certamente ouvirá em pouco tempo. Eles são o Capa Comics, coletivo carioca composto por 16 moradores da Baixada Fluminense que aos poucos tem conquistado um espaço com suas histórias regionais contadas na linguagem dos quadrinhos.
Mês passado eles realizaram o sonho de todo quadrinhista e lançaram uma HQ impressa. Sem preconceito, o a revista Capa Comics publicou cartum, mangá e comics. Diferentes estilos e mentes, mas o mesmo sonho. E juntos, conseguiram o que nenhum deles conseguiria sozinho.
Convidamos o sempre falante e divertido João Carpalhau, editor da revista e líder do coletivo, para quebrar a quarta parede e nos revelar um pouco mais sobre este curioso grupo.
Impulso HQ: O que é o coletivo Capa Comics e quais são os seus membros?
João Carpalhau: 
O Coletivo Capa Comics é uma ideia que me foi soprada no ouvido por um ser de outra dimensão. Ele me disse: “Se você construir, eles virão”. Na verdade, tudo começou em uma conversa de barzinho entre amigos que faziam HQs. O legal da Baixada Fluminense é que todo mundo se conhece ou acaba se conhecendo. Hoje, somos um grupo de 16 quadrinistas. Todos cria da Baixada e determinados a fazer quadrinhos brasileiros.
IHQ: Qual o diferencial do Grupo?
J. C.: I
novação e azeite de dendê. Buscamos fazer quadrinhos regionais sem que sejam bairristas ou mais do mesmo. Acreditamos que é possível construir um universo de quadrinhos onde as personagens possam se encontrar sem precisar ser em Nova Iorque ou em Tóquio. Nosso país é grande o suficiente e tem muitas histórias bacanas para brincarmos na nossa realidade do possível existir.
IHQ: Você acredita que é possível criar um universo e histórias sequenciada num país em que a maioria das revistas não chega ao segundo número?
J.C.: 
Eu acredito em transformar utopias em realidade. Acredito em sonhos possíveis, e acima de tudo que um homem sozinho é capaz de mudar o mundo. Nós somos 16 então já estamos em vantagem.
IHQ: Como tem sido a recepção do grupo nos eventos? O povo da Baixada Fluminense ainda é malvisto e tratado de forma paternalista como antigamente?
J.C.: 
O grupo tem sido recebido com o maior carinho em todos os eventos que participa. O que temos a fazer é retribuir ao público da mesma maneira e de preferência honrando-o com boas histórias. O que levamos conosco é o melhor que a Baixada Fluminense pode oferecer. E as pessoas inteligentes sabem disso.
IHQ: Qual a sensação de ter algo publicado?
J.C.:
 Pra quem é independente isso é realmente como colocar um filho no mundo. Não basta apenas ir lá e ver o nascimento. Você precisa levá-lo na escola, ao dentista, enfim, acompanhar seu crescimento. Com a publicação é a mesma coisa, uma verdadeira paternidade. E a Capa Comics é como uma família.
IHQ: O formato “Mix”, com histórias e artistas de diferentes estilos foi bem aceito?
J.C.: 
Até agora ninguém reclamou. Em eventos de Mangá todo mundo ama Polly & Pumpkins e nos eventos de Comics todos amam o Detrito. Mesmo assim todos que leem a poesia de Solano Trindade quadrinizada concordam que ele é bom. Na verdade, nossa intenção em colocar estilos diferentes em um mesmo gibi foi proposital. No fundo os comics e os mangás são a mesma coisa, a mesma base. Tudo é arte-sequencial. O que as pessoas precisam se tocar é que quando é feito por um brasileiro, então é quadrinho nacional. Gostamos de chamar nossas HQs de gibis.
IHQ: Quais os planos do coletivo para outras mídias?
J.C.: 
Há muitos planos, mas não esperávamos que as coisas aconteceriam tão rápido. Já existe um convite para criação de um jogo de vídeo game do Detrito. Também há uma parceria da Capa Comics com o Cineclube Ágora e a Pepa Filmes que deve render algumas web series ambientadas no nosso universo.
IHQ: Dezesseis membros. Como conseguem conciliar tantas opiniões e ideias diferentes? É muito difícil?
J.C.:
 Quando disse que a Capa Comics era como uma família eu não estava brincando. A gente bate muito de frente e é quase impossível reunir todo mundo. Mas somos sempre honestos uns com os outros. Esta honestidade é o que faz a coisa ser o que é. O segredo é atitude e respeito.
IHQ: Além do Solano Trindade vocês pretendem homenagear algum outro famoso da Baixada?
J.C.:
 Na verdade, nossa intenção é honrar os que merecem honra. Solano Trindade não é um famoso. Ele é uma lenda real da Baixada, do Brasil. O “Poesia em Quadrinhos” busca mostrar a poesia, que aqui nestas bandas é e sempre foi muito forte.
Temos Solano, Barbosa Leite, João de Deus, Heraldo HB, Tubarão… A Baixada está cheia de poesia, cheia de poetas, histórias e lendas urbanas gritando por serem mostradas. Não só a Baixada, mas o Brasil tem um monte disso.
É hora do brasileiro olhar para o Brasil e isso não é papo nacionalista. As pessoas precisam observar as coisas que estão a sua volta. Há muita coisa boa acontecendo.
IHQ: Vocês tem algum conselho para quem quer tentar fazer o mesmo?
J.C.: 
Coragem, paciência, persistência e não só amor, mas muito tesão pela arte.
****
Agradecemos ao Carpalhau pela entrevista. Se você quer conhecer mais sobre o Coletivo Capa Comics, acessem o site www.capacomics.com ou pergunte se sua gibiteria preferida se ela já tem o gibi deles, ou entre em contato diretamente com o coletivo pelo e-mail capacomics@gmail.com.

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