terça-feira, 8 de abril de 2014

O Dia do Quadrinho Nacional


Dia 30/01 foi o Dia do Quadrinho Nacional.
Você sabia disso? Se sua resposta foi “Nem sabia que tinha algo além da Mônica…”, não se espante, você não está só.
O dia do quadrinho nacional surgiu em 1984, e é uma homenagem ao dia que o italiano Ângelo Agostini chegou no Brasil no longínquo ano de 1869. Sua importância para os quadrinhos é tanta que suas histórias As aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte e Zé Caipora são tidas como os primeiros quadrinhos publicados em nosso país. Seu diferencial foi o uso rudimentar do que atualmente chamamos de linguagem dos quadrinhos. Outra homenagem a esse importante artista foi o prêmio Ângelo Agostini, criado em 1985 pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo.
Agostini foi um precursor, mas os quadrinhos continuaram evoluindo até se tornarem o que são hoje. Quase dois séculos depois, a Mônica foi o quadrinho que deu certo, mas vários artistas que pensaram em algo na mesma linha afundaram com o tempo.

Turma do Lambe-Lambe

Bons exemplos (no mesmo estilo) são a Turma do Lambe-Lambe, de Daniel Azulay, e Cacá e sua Turma ou Os Amendoins, de Ely Barbosa, que já tiveram até programas de TV, mas viraram nostalgia.  E se formos ver outros estilos, veremos que por um bom tempo, apesar de todas as dificuldades e problemas, sempre surgiram HQs para todos os públicos e de diferentes qualidades.
Mas o que fez com que fosse tão difícil fazer quadrinhos no Brasil? Podemos dizer que boa parte da culpa é do preconceito, mas quando ele surgiu?
Creio que a raiz disso venha dos anos 1940, num brasil onde integralistas e direitistas mostraram sua cara feia e tentaram dominar as ideias e ideais do povo. A Caça às Bruxas começou na Itália de Mussolini, passou pela América Macartista e aportou na Terra Brasilis, onde se estabeleceu após uma pequena adaptação. Inspirados na ideia do líder fascista de que ler quadrinhos criava mentalidades antinacionalistas e nos conceitos americanos de que as HQs deturpavam a cabeça de seus leitores, o Brasil do integralismo pulverizou nas mídias a carta de um suposto presidiário, que só teria chegado onde estava devido à lavagem cerebral feita pela nona arte.

Cacá e sua Turma
Foi o bastante para que a mídia, os políticos e a igreja criassem uma campanha funcional que, mal interpretada por nossos pais e avós, levou-os a entender que tal literatura emburrecia seu leitor e, por isso, era algo “do mal”.
Queira você ou não, esse período fez um tremendo estrago a longo prazo. E não pelos motivos certos, afinal, o que realmente ficou foi o conceito de que era algo infantil e de que só idiotas perdiam seu tempo lendo. Sim, nossos pais e avós eram tão ignorantes que interpretaram a verdade conforme suas percepções. Infelizmente, isso queimou nossa mídia e gerou um problema sério: a condescendência. Nos tratam como retardados ou idiotas e, quando entrevistam alguém do nosso meio, sempre inserem algum tipo de subtexto preconceituoso. Infelizmente para nós, não existem leis anti discriminação que defendam o nosso grupo.
O preconceito maior, aliás, consistiu em não criar um público nem um mercado para o nosso tipo de mídia. É impossível investir num produto diferente se supostamente só existe um público. Já que quadrinho é essa coisa de Mônica ou de Disney, poucas editoras investiram em algo novo. Houve boas editoras (como a Vecchi, que publicou terror e faroeste, a Taika, que publicou super-heróis, e a Bloch, que

Ângelo Agostini
fez alguns experimentos), mas foram grupos independentes de artistas, como o que se mudou para o sul e montou a editora Graphipar, que revelaram importantes nomes do quadrinho nacional adulto (a maioria migrou para o exterior).
O grande problema é que esse tipo de mercado deixou um gosto amargo em seus artistas, que passaram a desacreditar naquilo que faziam e desencorajavam todos os que buscavam seus conselhos. Que mercado? Mesmo que isso fosse um fenômeno mundial, era na nossa realidade que a pedra apertava, e se você cresceu nos anos 80 praticamente não viu nada nacional na banca e achou os anos 90 um oásis. A década que trouxe os agenciadores de quadrinhos internacionais e os quadrinhos com traço inspirado em mangás mudou a forma como muitos viam a mídia. Tivemos convenções internacionais, barateamento de papel e vários fanzines que se tornaram revistas independentes.
Nossa geração pegou o bastão e fez seu trottoir. Sempre lembrando que somos a primeira geração de pais assumidamente nerds, que se comunicam (sem preconceitos ou condescendências) com a mesma linguagem dos filhos. Ser nerd ou gostar de quadrinhos não incomoda nossos filhos, que agora leem e produzem quadrinhos de formas novas. Com a internet, os novos candidatos a Ângelo Agostini podem fazer seus próprios quadrinhos e garantir que próximas gerações também comemorem essa importante data.
 
- See more at: http://www.pipocagigante.com.br/?p=52123#sthash.gcnuoRoz.dpuf


Publicado originalmente no site Pipoca Gigante. Já  conhece o Pipoca Gigante? www.pipocagigante.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Artes Inéditas de Histórias da Bíblia

Apesar de ter tido uma edição publicada, a proposta da série Histórias da Bíblia era narrar todas as histórias contidas neste que é um dos ...