Não dá mais pra retardar a velocidade da informação. Em 2014 qualquer comentário é respondido com a mesma velocidade com que é feito.
Dia desses, um artista comentou que, com as novas formas de publicação, a necessidade de um editor era basicamente nula. Quase que prontamente um editor fez um pequeno discurso sobre sua editora ter trazido vários autores novos pro mercado e sobre como eles estavam aumentando os pontos de venda. Depois de ouvir os dois lados da questão, eu me pergunto: Qual dos dois está errado? Pergunto isso porque, ao seu modo, os dois estão certos.
Historicamente falando, a maioria dos editores brasileiros sempre deu um jeitinho de se aproveitar dos artistas, o que criou bolhas produtivas regionais e esporádicas. O Rio de janeiro, por exemplo, participou de uma entre os anos 1970 1980 e até hoje está tentando se mudar pra São Paulo, que é onde todas as bolhas acontecem. Fora do eixo Rio-São Paulo, as editoras sempre rareavam e os artistas tinham de implorar atenção e aceitar as condições dos poucos editores que dão chances.
Se eles são de confiança? Digamos que seja um recalque pessoal, mas por uma série de motivos, poucos são. Alguns nem são a velha iniquidade, mas são sonhadores e desorganizados. É o típico viciado que virou traficante e quase não lucra com a produção.
Se o traficante não tem lucro, imagina o avião… Ah, sim, muitos só são editores porque são os donos da editora. Numa editora, se você não se dá bem com um dos editores, normalmente tenta a amizade com outro. O ponto é que no Brasil a editora só tem um editor e normalmente acabamos nos sentindo exatamente como nos tempos de escola, quando tentávamos reclamar da aula de um professor que (por acaso) também era o diretor.
Uma editora precisa de pontos de venda físicos e muitas vezes tem mais prejuízos do que lucros. Como muitos tem medo do temido material nacional, o editor brasileiro que arrisca não só paga pouco como existem casos em que ele deixa bem claro que, se você não quiser, outro quer.  Sim, também existem os artistas que só querem ter o prazer de dizer que produziram algo e mostrar pro papai, pra mamãe e pra você que são artistinhas de respeito. O ponto é que isso não cria um mercado de profissionais. No momento em que até um artista novato com o traço em desenvolvimento quer lucrar com sua arte, todos vão fazer qualquer coisa menos quadrinhos depois de um tempo. Perdemos diariamente um grande número de artistas que poderiam ser importantíssimos pro meio simplesmente porque eles não monetizam sua arte.
Parece que o virtual não só quebrou a incerteza como ainda gerou essa possibilidade do artista ganhar o seu qualquer. E com o surgimento da primeira loja virtual brasileira, os intermediários se tornaram levemente desnecessários.
Qualquer um pode produzir e descobrir quanto vale seu show. Mesmo que ele valha pouco, afinal, estamos criando uma nova forma de comércio que depende de seus leitores e a verdade é que, por mais que já tenhamos internet há quase 20 anos, ela ainda está engatinhando. Ainda assim, a geração mais nova gosta de ler na tela. Não gosta do papel ou simplesmente gosta das duas mídias.
Vivemos numa época de descentralização. Com a nova facilidade, o editor é obrigado a alcançar um nível novo e realmente oferecer algo que faça a diferença. Ele deixou de ser a única porta de entrada do artista. E isso é bom.
Mas ele não precisa se tornar uma relíquia. Quer um exemplo? Deu certo no digital? Investe no papel. E é aí que entra o editor. Ele precisa estar antenado pra saber o que está dentro de seu perfil de publicação e mandar bala. E mesmo que não se enquadre no perfil de uma editora, o artista ainda poderá criar uma fanbase na internet que continuará consumindo seus quadrinhos.