Capítulo 1
Ele entra na “Disco” e sente o cheiro de morte, Todos os cadáveres estão vestidos para sua festinha fetichista cercados de vítimas em potencial e wannabes. Uma ruiva com cabelos “Chanel” sorri convidativa. Até o fim da noite seus olhos perderão toda a esperança e ela será encontrada esquartejada num dos becos da cidade. O homem sem nome sorri e acena. Não é problema seu.
Pouco antes de ele sair, a ruiva já estava se derretendo para um imenso cadáver cabeludo com cara de Frankenstein. A paixão da vitima pelo predador. Algumas vezes, a vítima se rebela. Talvez esta seja uma delas. Quem se importa?
Ele puxa o maço do bolso e sorri enquanto acende um Newport. Segundo as estatísticas, os cigarros ingleses tanto podem destruir seus pulmões quanto provocar diabetes. O último prazer de um louco que entrou praticamente despreparado num antro de vampiros.
No palco, o apresentador – com um inglês gaélico quase incompreensível - apresenta o show principal da noite. No meio de todo o discurso ele compreende apenas: “Dance Sauvage. Se é o nome do show ou da cantora, uma mistura da face pétrea de Josephine Baker com a cruel sensualidade de Marie Laveau ou não, ele só descobriria no final do show. Se pretendesse ficar.
Perdido em seus pensamentos e admirando um grupo de garotos que imitando os maconheiros, cortam seus pulsos e dividem o “Sangue da paz” entre os companheiros de mesa, ele é atropelado por um imenso par de seios e quase cai. A mulher vestida dos pés a cabeça com vinil rosa, deixando de fora apenas os imensos seios brancos com veias azuladas e mamilos rosados o ajuda a se levantar. Quando sua minúscula dona puxa sua corrente, ela simplesmente o encara com seus olhos brancos e sai sem dizer uma única palavra.
Atrás dele, três moleques vestidos de Amy Lee riem, mas param assim que ele os encara. Não são homens o bastante.
A cantora sinaliza e uma o chão é iluminado com vários símbolos mágicos. É quando ele sente a maldita dor de cabeça. Ela está perto.
Anos atrás, depois de tomarem absinto suficiente para matar metade de um reino e ela ter feito para ele um show erótico com sua namoradinha ruiva menor de idade, uma amiga oriental não só comentou que cada pessoa tinha sua energia especifica e única como ensinou um truque para encontrar qualquer um através dessa assinatura energética.
O homem sem nome esteve caçando a noite inteira. Espreitou e se aproximou de sua vítima várias vezes sem que ela percebesse.
No meio da luz estroboscópica ela dança. Movimentos em “câmera lenta” parecem capturados e roubados para os delírios mais pervertidos da eternidade e de todos os homens ao seu redor. Poderia ser qualquer outra pessoa fazendo os movimentos sensuais e passando os dedos em seu corpo ao som de “Black Number 1”, mas apesar do cabelo curto e do corpo vários quilos abaixo, Alan a reconhece por seu padrão energético único, com o qual conviveu por tanto tempo. Ainda estão interligados , sua única falha, a que gostaria de eliminar.
Aproximando-se dela, que como sempre, é o centro das atenções por onde passa, puxa um lápis de seu bolso e escolhe um entre tantos alvos possíveis no que considera 1,75 metro de pura canalhice. Sempre foi tido como um homem com gelo em suas veias. Poucos , e nem ele se reconheceria num espelho naquele momento. O olhar injetado de fúria e as intenções assassinas só demonstram o quanto ainda está vulnerável á mulher que na verdade, gostaria de ter novamente em sua cama.
Utilizando-se dos velhos conhecimentos, vai abrindo caminho através de uma multidão de escolhidos que amanhecerão ainda mais doloridos do que durante sua passagem. Muito depois, ele pensará neste momento e finalmente apreciará a sutil troca de lugares entre os dois, fechando um ciclo gerado em seu primeiro encontro. Ódio, o reverso do amor.
Com a saída de todos a sua frente, assustados com o louco que abria caminho cada vez mais intensamente, usando pontos de “Do-in” para nocautear todos que atrapalhassem. Percebendo que desta vez ela dança para alguém, um garoto com uma espantosa semelhança com o vocalista da banda “White Stripes”. Ele parou por alguns minutos e a viu circundando-o. Os cabelos tingidos com manchas vermelhas, a mesma cor de sua saia de vinil, contrastavam com o negro de sua mini blusa e de suas meias “7\8”. Chegou a sentir uma ponta de inveja quando a viu esticando o dedo e levando seu “parceiro” até sua boca, num quase beijo, desviado apenas no último momento. Ela estava livre, de um jeito que não conseguiria ser com ele graças ao tédio de suas constantes reclamações.
Mais do que uma menina misteriosa, ela soava como uma mulher perigosa capaz de ter qualquer coisa que quisesse e todos os homens aos seus pés. A rainha da dança, a deusa do sexo e uma das fúrias mitológicas, todas numa só . Os movimentos hipnóticos atraem tanto a sua atenção quanto a dele, que deve ser o mais novo membro da “irmandade”. Por alguns momentos, ele se indaga o tipo de “filhinho de papai mimado” que o garoto seria. Com um bolso sempre pronto para ser esvaziado e capaz de levá-la em aventuras dentro deu sua “Masserati”. Farpas de fúria espetam correm por sua corrente sanguínea, deixando-o ainda mais cego e vulnerável a mais destrutiva de todas as paixões. Ainda se lembrava daqueles pequenos seios em outros movimentos e de admirar e elogiar o corpo que agora dançava a sua frente em momentos mais... Privados.
Saber o que precisa fazer e ainda assim estar cego demais para tomar uma atitude completamente diferente sempre foi o mal dos apaixonados, o mesmo mal que sofria e o fez avançar ainda mais, sem se importar na dor que causava em todas as suas vítimas. Seria muito mais fácil aparecer do nada e surpreende-la dizendo que correu metade do mundo para encontrá-la. Mesmo uma desmorta apreciaria a lisonja, principalmente uma tão orgulhosa quanto Lilith.
Uma nova musica altera o clima tingindo-o com os tons ainda mais sombrios de “Freak on a leash” cantada por “Korn”, um petardo imediato em seu coração, que começa a acompanhar o compasso da bateria da música que fala em quedas em desgraça e doenças incuráveis. Nada mais atual para ele, que se sentia cada vez mais sozinho no meio da multidão. “Primus inter pares”. Sua consciência é tomada por vários delírios tanto de criação quanto de destruição até não restar nada além de sua vontade e uma linha reta.
O mundo ao seu redor para e todos ficam congelados, exceto sua vitima provável, cada vez mais próxima;apenas um corpo de distancia. Como se o laço que os unia fossem instantaneamente re-ativado, ela finalmente o percebe,arregalando os olhos espantada. No minuto seguinte, tomba com um lápis cravado no pescoço e surpresa em seus olhos. Apesar da dor, virou-se para seu agressor. Triste e decepcionada, ela o encarou.
“Seu idiota! Só tentei te proteger...” – Disse uma voz em sua mente pouco antes do calafrio avisar que uma de suas defesas foi invadida.
Entristecida pela desagradável surpresa e enfraquecida pela madeira próxima a sua veia cava para que uma atitude imediata não fosse tomada, voltando a atenção para o que realmente importava naquele momento: Sua vida.
- O Show acabou, seus idiotas! Ele só será achado se quiser... – murmura - Ainda posso ser salva. Alguém se habilita?
Os presentes, ainda aturdidos com seu repentino desaparecimento, voltaram sua atenção para a morena que definhava a olhos vistos.
Alan Moore já havia deixado o prédio.
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