O editor-chefe da Marvel Comics, Axel Alonso, acabou de anunciar que finalmente teremos o Marvelman nas páginas da editora. Desde 2009, quando a Marvel conseguiu os complicados direitos deste herói, os fãs aguardam ansiosamente o que poderia ser considerado um final feliz para o personagem, que depois de quase duas décadas de falsos retornos, merece um retorno triunfal.
Você já ouviu falar de Marvelman? Não se acanhe com uma resposta negativa. Apesar de ter sido criado em 1953 pelo inglês Mick Anglo, o personagem nunca tinha chamado atenção até sua fase mais recente, quando – apesar de todos os prêmios no exterior – teve quatro edições (apenas) publicadas por aqui em 1990 – publicações que inclusive sofreram de todos os males de uma editora pequena que (supostamente) publicou material não licenciado – o pior deles: a péssima divulgação.
E esta atribulada passagem pelo Brasil sequer é o elemento mais absurdo da história deste personagem que foi criado para suprir os fãs ingleses das aventuras do Capitão Marvel, então canceladas na Inglaterra.
Melindrada com o sucesso do personagem da Marvel, a DC Comics moveu um processo contra o herói que considerava ser uma cópia do Superman. Com o cancelamento dos títulos, o editor inglês Len Miller convocou às pressas o artista Mick Anglo, a quem incumbiu da árdua tarefa de criar uma solução rápida para impasse. Para manter os leitores, o criador apostou nas semelhanças e criou o primeiro plágio que deu certo da história.
Quando a Família Marvel decidiu se aposentar e viver uma vida normal, devolveu os poderes ao mago Shazam, que encontrou substitutos à altura: dois jovens que ao bradar a chave sonoraKimota (atomic ao contrário) se tornavam Marvelman e Young Marvelman. De quebra, o garoto que pronunciasse o nome de seu ídolo, Marvelman, assumia a identidade heroica de Kid Marvelman. Entre seus muitos inimigos, figurava o terrível Doutor Gargunza, o cientista louco que pretendia dominar o mundo.
Publicada ao redor do mundo, inclusive no Brasil, esta versão mais fantasiosa do personagem conquistou muitos fãs, mas não tantos quanto seu revival nos anos 1980 conseguiria.
A sobrevida dos títulos durou até 1963, quando uma novidade chamada Marvel Comics aportou na Inglaterra com seus novos super-heróis cheios de dilemas e pontos fracos, elementos realistas que falavam mais aos leitores dos anos 60 do que a fantasia.
Ao longo de toda a sua juventude, um certo fã da série ficou se indagando o que aconteceria se o personagem tivesse esquecido sua palavra mágica e as implicações deste esquecimento no mundo ao seu redor. O fã, um cartunista chamado Alan Moore, teve a chance de desenvolver esta ideia a partir de 1982, quando, junto com outro projeto seu, V de Vingança, foi contratado pela revista Warrior para contar as novas aventuras de Marvelman.
Na série, o desmemoriado Mike Moran, agora um jornalista quarentão casado, redescobre seu mantra e inicia uma interessante jornada de autodescoberta que o levará a tomar importantes decisões que afetarão todo o mundo.
Adaptado para os anos 80, o personagem descobriu ser não só parte de um experimento militar secreto como também que todas as suas aventuras anteriores eram memórias implantadas por seu suposto pior inimigo, o Doutor Gargunza – na verdade, um dos cientistas responsáveis pela criação dos vários super-humanos que surgiram na série.
Sem as pressões das grandes editoras, o título foi usado para fazer diferentes experimentos e exercícios de estilo tanto por Moore quando por Neil Gaiman, que deu continuidade ao título após a saída de Moore. Quando saiu, Moore cedeu os direitos autorais do título a Gaiman, que teve de enfrentar o pior inimigo de um autor: a falência de uma editora.
Com o cancelamento da Warrior, a série foi negociada com várias editoras americanas. Já com o nome trocado para Miracleman(exigência da Marvel Comics), o personagem ganhou um título solo pela Eclipse Comics, que não só publicou em nove números tudo o que havia saído na revista anterior como deu continuidade à série até também falir.
Com a falência, recomeçou o calvário de Gaiman que, na luta para retomar os direitos do personagem, decidiu fazer um trato com Todd McFarlane, criador do Spawn e dono de uma importante fábrica de bonecos americana. Segundo o trato, Gaiman criaria personagens e escreveria algumas histórias que gerariam um ressarcimento alto o bastante para que ele comprasse os direitos de publicação do herói. Agindo de má fé, McFarlane comprou os direitos do personagem e começou a usá-lo em um de seus títulos, o que foi o estopim de uma briga judicial pelos direito que só terminaram quando Alan Moore, Joe Quesada (na época, o todo poderoso da Marvel) e outros quadrinistas interessados em ajudar Gaiman descobriam que Mick Anglo ainda estava vivo, e que na verdade todos os direitos do personagem ainda eram dele.
Com essa solução deux ex machina, a Marvel, para quem Gaiman havia feito alguns projetos para angariar fundos que garantissem a continuidade de seu processo contra o criador de Spawn, comprou os direitos do personagem que então voltou a se chamar Marvelman.
Entretanto, desde 2009, apesar de prometido, nenhum material inédito foi relançado, apenas algumas das histórias originais de Anglo. Os leitores interessados em ler não apenas os 25 números criados por Moore e Gaiman como também a continuação escrita pelo segundo aguardam apreensivos o anúncio da resolução de todas as complicações envolvendo os direitos destas histórias, que aparentemente foram publicadas sem a permissão do artista original, o que cancelou todos os direitos de publicação das mesmas.
Segundo Alonso, em 2013 o personagem trará grandes novidades. A nós, fãs, e aos curiosos resta apenas esperar e sonhar com o anúncio que temos aguardado ansiosamente há quase duas décadas.
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