Defina bom e ruim.
Bom é o que satisfaz suas expectativas e ruim é o que não satisfaz, certo? E isso vale tanto para bens de consumo quanto para gostos. Levando-se em conta que lazer é um bem de consumo, consumidores insatisfeitos têm todo o direito de reclamar de seus investimentos, mas nem sempre de seus gostos.
Gosto é impessoal e intransferível. O que agrada a um desagrada a muitos e vice-versa.
Cinema é um lazer consumível que, volta e meia, tenta adaptar outras mídias para a sua linguagem. Algumas vezes com sucesso, outras nem tanto. E o que diferencia um sucesso de um fracasso pode passar pelo gosto. Filmes são feitos com a linguagem de seu tempo e nem sempre com a intenção de agradar a grupos específicos. Filmes sobre quadrinhos, por exemplo, até tentam agradar leitores de quadrinhos, mas se eles fossem o único público alvo os estúdios já teriam desistido na primeira crítica.
Os leitores crescem com os quadrinhos e muitas vezes chegam a mimetizar o código moral ou acreditam que suas vidas se assemelham a de seus personagens preferidos. Escapismo ou transferência, a verdade é que por um longo período de suas vidas eles se sentem íntimos de seus heróis de papel. Sendo a intimidade uma forma de possessão, os fanboys mais radicais se manifestam contra alterações com uma fúria capaz de queimar qualquer filme já em seu lançamento. O pior é que a maior parte dessas críticas é baseada no gosto pessoal, mas por elas terem sido proferidas pelos formadores de opinião de então, tem mais poder do que os comentários de quem viu e gostou; muitas vezes, a maioria.
Alguns estão certos, outros errados e muitos perdem a razão em suas reclamações, mas a verdade é que as adaptações transmídia precisam falar a linguagem do momento no qual são produzidas ou serão desastres de bilheteria. E nenhum estúdio quer perder dinheiro. Aliás, foi por isso que super-heróis ficaram quase uma década fora das telonas.
Mas o que torna um filme um fracasso comercial independe da ira dos leitores de quadrinhos. A verdade é que muitos estúdios não entendem a força dos ícones da cultura pop e se esquecem de que boa parte destes personagens existe há pelo menos meio século. O Superman, por exemplo, completa 75 anos neste ano e foi presenteado com um novo longa que felizmente tem recebido boas críticas desde o seu lançamento lá fora. Levando-se em conta que, após a conclusão da trilogia Batman, o peso da continuidade do universo cinematográfico da DC Comicspairava tanto sobre os ombros de aço doKriptoniano quanto dos de seu criticado diretor humano, os fãs podem respirar aliviados, pois, aparentemente, esta será a melhor adaptação do personagem em 30 anos.
O universo Marvel, por sua vez, acertou bastante desde o primeiro “Homem de Ferro” e investiu em algo que os roteiristas pareciam ter esquecido até então: a caracterização. Você reconhece os personagens e seus dilemas básicos. São atualizados para funcionar em uma trama de duas horas? Sim, são. Infelizmente, algumas adaptações irritam os fãs deste ou daquele personagem, mas funcionam dentro da proposta e poucos realmente reclamam. Como já disse antes, não se pode agradar a todos (nem creio que seja esta a intenção), mas a verdade é que justamente por termos nerds de quadrinhos dentro dos estúdios, os personagens nunca foram tão bem adaptados quanto têm sido na última década.
Existem adaptações ruins? Sim.
Podemos citar “X-Men Origens: Wolverine“, “Lanterna Verde“, “A Liga Extraordinária” e muitos outros que me vêm à cabeça neste momento. O ponto é que, salvo raras exceções, o público que paga pra ver um ícone da cultura pop e não conhece os quadrinhos do personagem gosta do que vê. Isso faz com que o estúdio tente acertar para abocanhar uma fatia maior de público, em uma tentativa que tem levado às telonas tanto blockbusters óbvios quanto filmes baseados em quadrinhos independentes, como “Estrada para a Perdição“, “Os Homens que não Amavam as Mulheres“, “Scott Pilgrim Contra o Mundo” e “Mundo Fantasma“, por exemplo.
Já repararam que todos ganham com isso? Após um longo inverno onde víamos adaptações de péssima qualidade que não agradavam nem mesmo ao público em geral, somos brindados não apenas com a excelência visual de “Os Vingadores“, cuja narrativa e caracterização estão muito bem amarradas, como ainda ganhamos de brinde histórias alternativas interessantes. Mesmo que ainda não tenham encontrado a fórmula de como agradar a Daleks e Romulanos (gregos e troianos, se preferir), adaptar quadrinhos voltou a ser um bom negócio para os estúdios agora.
Goste você ou não!
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