domingo, 12 de janeiro de 2014

On the road Rural

Você sabia?
A tira Hiroshi e Zezinho surgiu em 1961 e durou dois anos, até que um personagem veio e roubou a tira, que em 1963 passou a se chamar Chico Bento.
Zezinho, Hiroshi e Chico Bento
Isso significa que o evento completou 50 anos, mas ninguém comentou. Não é curioso imaginar que todos os personagens que fizeram escada pra “ladra de tiras que deu certo” foram meio que relegados ao segundo plano? O universo do Maurício de Souza não começou com a Mônica, mas é só dela que falamos. Vamos tentar quebrar isso?
O Maurício se redimiu e lançou Chico Bento Moço. Você já leu? Vale a pena!
Mexendo em time que está vencendo, a revista pega o já conhecido conceito dos mangás com personagens crescidos e traveste em algo regional e (por que não?) intimista.
Chico, seus amigos e sua eterna namoradaRosinha cresceram e, como toda ave migratória, têm de começar sua viagem de crescimento. No momento certo, tal jornada os levará de volta ao ponto de partida, onde criarão seus ninhos e formarão família. Aliás, esse é o mote do primeiro número, a despedida do ex-caipirinha, quando muitos dos personagens que participaram de seu rito de passagem confirmaram a ligação do protagonista com o lugar de onde veio, mesmo sabendo de todos os percalços que esta ligação geraria em sua nova realidade.
E isso é bom. Quase todos nós tentamos emular os ambientes onde estamos inseridos no momento, como camaleões sociais que se esquecem de suas origens, passando a viver apenas o presente e tentando evoluir dentro dele. Indo na direção contrária, Chico Bento afirma suas raízes e tenta adaptá-las a todos os choques culturais que passa a viver.
Chico Bento também sofreu bullying?
Como todos na trama foram para faculdades de cidades distantes para lidar com suas escolhas profissionais, ele é convidado pelo primo para morar numa república, lugar onde suas diferenças são sempre grifadas. Ainda assim, Chico invariavelmente consegue usar soluções baseadas em suas raízes. Num dos números, por exemplo, após esfriar a cabeça e analisar a raiz de seus atritos com os novos colegas, ele aprende não só a identificar cada um deles como cria uma amizade sólida com todos, principalmente com o que adora uma comidinha caseira e com o que percebe que suas modinhas de viola atraem muitas garotas.
Seria fácil o personagem se perder ou ser descaracterizado. Sua revista irmã, Turma da Mônica Jovem, abusa da fantasia, o que nunca funcionaria aqui. Já a viagem beatnick de busca pelo eu proposta pela revista faz com que todos se identifiquem com a jornada dos personagens. Todos vivemos algo parecido em algum momento da vida.

Não é difícil imaginar que, entre uma modinha de viola e outra, o personagem cante um daqueles rocks rurais dos anos 1970 ou alguma música do Bob Dylan.
E o título Chico Bento “Moço” (e não “Jovem”, como o usado em sua revista irmã) deixa isso bem claro. Afinal, não só lembra o interior como dá um tom mais clássico. A palavra mocidade foi muito usada para falar dos jovens brasileiros até os anos 1970/80, antes de ser modernizada para juventude e jovem, termos mais dinâmicos. O uso do termo Moço no título denuncia o ritmo diferente que a história quer passar.

O gibi ainda rendeu dois derivados interessantes. Um número zero, lançado apenas na Bienal do Livro de 2013, se tornou um exemplar raro, uma revista de colecionador. O outro resultou da estratégia de aproveitar o mote da realidade aumentada usada pela Marvel em suas revistas para, quando o primeiro número foi pra banca, criar “O Sumiço da Rosinha”, um jogo para celular onde você coloca a câmera sobre algumas páginas e vê uma caverna cheia de mistérios onde você viverá a jornada do herói.
Que tal conferir e descobrir o quanto a história pode te tocar? Você pode se surpreender e passar a admirar ainda mais nosso querido ladrãozinho de tiras.

O mundo dá voltas

Anos atrás, quando a internet ainda engatinhava, um conhecido comentou que pretendia digitalizar todos os seus quadrinhos para economizar espaço. Confesso que ri. Nos anos 90, a ideia de digitalizar quadrinhos soava idiota. Os computadores ainda estavam se popularizando, a internet engatinhava e a única forma de gravar e transportar dados eram os Zip Drives de 100 mb. Ninguém imaginaria que em 2013, se nos reencontrássemos, ele viria com o clássico: “Eu te disse”! Mas foi justamente o que aconteceu. Nesse novo encontro ele comentou sobre a série The Private Eye, que além de ter sido criada para explorar todas as possibilidades do formato digital, também é a primeira história em quadrinhos traduzida simultaneamente para o português.

Rumo a Era Digital
Desde a popularização dos computadores e da internet que os criadores de quadrinhos têm pensado em formas de explorar o novo instrumento e a mídia criada com seu surgimento.  Nos anos 80, o colorista Daniel Vozzo popularizou o Photoshop nas páginas daPatrulha do Destino e de SandmanSteve Oliff criou a empresa de colorização digital Olyoptics e Richard Starkings criou aComicraft, empresa especializada em Letramento digital. Juntas, a Comicraft e a Olyoptics se tornariam referência de qualidade nos anos 90 pelo uso de softwares de edição gráfica. Isso no auge da moda da arte digitalizada, quando o tablet ainda era apenas uma mesa digitalizadora e tanto o Photoshop quanto o Illustrator eram admiráveis mundos novos capazes de criar efeitos nunca vistos nos quadrinhos (na maioria das vezes exagerados).
Com as primeiras digitalizações veio a possibilidade de uplodear a arte para os servidores das editoras, o que passou a ser aproveitado para criar conteúdo independente direto para a internet. E mais uma vez o computador mudou a forma como lemos quadrinhos. Vários artistas passaram a explorar a internet: tanto novatos que não conseguiriam espaço em outra mídia como veteranos buscando experimentar novas ideias e alcançar um público ainda maior. Para o bem e para o mal, a Internet mudou não só a forma como lemos quadrinhos como, com o surgimento dos scans, nos fez questionar se deveríamos continuar pagando por eles.
DC na era dos pads
Com os Scans e a possibilidade se se ler quadrinhos no computador, as grandes editoras começaram a sentir a diferença onde realmente doía, no bolso, e tentaram correr atrás do prejuízo.  Surgiram projetos como a Zuda Comics, braço virtual da DC Comicsque promovia concursos onde os quadrinhos digitais preferidos dos leitores eram renovados por mais uma temporada (e recebiam por isso) enquanto outros lançamentos iam diretamente para os computadores e notebooks dos interessados.
Foi quando a Amazon nos trouxe o Kindle e Steve Jobs mudou as regras do jogo, dando ao mundo uma ferramenta que até então não sabíamos o quanto precisávamos: o Tablet. Com ele, o mundo se tornou nossa sala de leitura. Para esta nova geração de leitores surgiu a ComiXology, uma distribuidora virtual na qual os quadrinhos das grandes editoras são lançados quase que simultaneamente a suas versões físicas, e onde quadrinhistas do mundo todo podem postar e comercializar seu material independente a um preço acessível.  Você compra os títulos que lhe interessam e, apesar de não poder fazer download de todos (apenas seis), pode mantê-los em seu histórico para ler quando quiser.
Gama Project, a Marvel Comics do século XXI
Com isso, a experiência de ler os quadrinhos mudou, ficou mais dinâmica. Além daqueles adaptados ou criados para leitura digital, temos as Motion Comics, a versão século XXI dos desenhos desanimados da Marvel. Agora ela anunciou o Gama Project, que trará som aos quadrinhos, e a demanda pelas edições digitais gratuitas de todos os gibis números um já publicados pela Marvel Comics fez com que o servidor do site ComiXology caísse… Só faltava quebrar a barreira da língua, algo que as editoras vinham prometendo há algum tempo e que impactaria até na forma como os quadrinhos impressos são feitos. Se a editora conseguisse tradutores nativos para seus quadrinhos, elas teriam total controle sobre a distribuição digital de seus produtos mundo afora.
E o que parecia ser um tabu foi finalmente quebrado por The Private Eye, de Brian K. Vaughan Marcos Martin, que conta com os tradutores brasileirosFabiano Denardim e Érico Borgo. A história é lançada simultaneamente em inglês, espanhol, catalão e português do Brasil, dando mais um exemplo de como as coisas poderão ser em pouco tempo.
A evolução dos quadrinhos. Seriam os X-HQ?
Muitos têm dito que os quadrinhos digitais decretarão a morte da mídia impressa. Mas a cada novidade, a morte da mídia anterior é declarada até que finalmente percebe-se haver espaço para todas e que só o que muda é a forma como o autor quer que seu produto seja executado. Muitos quadrinhos produzidos diretamente para a mídia digital ganham versões impressas, assim como muitos quadrinhos impressos já vêm com um passe para a sua versão digital, que possui vários adicionais. A grande verdade é que o digital ocupa bem menos espaço do que o físico e que aquele meu colega pode ser visto como um visionário. Afinal, ele comentou nos idos anos 1990 sobre algo que só foi consolidado quase 20 anos depois.

O delicado som do trovão

O editor-chefe da Marvel ComicsAxel Alonso, acabou de anunciar que finalmente teremos o Marvelman nas páginas da editora. Desde 2009, quando a Marvel conseguiu os complicados direitos deste herói, os fãs aguardam ansiosamente o que poderia ser considerado um final feliz para o personagem, que depois de quase duas décadas de falsos retornos, merece um retorno triunfal.
Você já ouviu falar de Marvelman? Não se acanhe com uma resposta negativa. Apesar de ter sido criado em 1953 pelo inglês Mick Anglo, o personagem nunca tinha chamado atenção até sua fase mais recente, quando – apesar de todos os prêmios no exterior – teve quatro edições (apenas) publicadas por aqui em 1990 – publicações que inclusive sofreram de todos os males de uma editora pequena que (supostamente) publicou material não licenciado – o pior deles: a péssima divulgação.
E esta atribulada passagem pelo Brasil sequer é o elemento mais absurdo da história deste personagem que foi criado para suprir os fãs ingleses das aventuras do Capitão Marvel, então canceladas na Inglaterra.
Melindrada com o sucesso do personagem da Marvel, a DC Comics moveu um processo contra o herói que considerava ser uma cópia do Superman. Com o cancelamento dos títulos, o editor inglês Len Miller convocou às pressas o artista Mick Anglo, a quem incumbiu da árdua tarefa de criar uma solução rápida para impasse. Para manter os leitores, o criador apostou nas semelhanças e criou o primeiro plágio que deu certo da história.
O encontro de Shazam e Marvelman
Quando a Família Marvel decidiu se aposentar e viver uma vida normal, devolveu os poderes ao mago Shazam, que encontrou substitutos à altura: dois jovens que ao bradar a chave sonoraKimota (atomic ao contrário) se tornavam Marvelman e Young Marvelman. De quebra, o garoto que pronunciasse o nome de seu ídolo, Marvelman, assumia a identidade heroica de Kid Marvelman. Entre seus muitos inimigos, figurava o terrível Doutor Gargunza, o cientista louco que pretendia dominar o mundo.
Publicada ao redor do mundo, inclusive no Brasil, esta versão mais fantasiosa do personagem conquistou muitos fãs, mas não tantos quanto seu revival nos anos 1980 conseguiria.
A sobrevida dos títulos durou até 1963, quando uma novidade chamada Marvel Comics aportou na Inglaterra com seus novos super-heróis cheios de dilemas e pontos fracos, elementos realistas que falavam mais aos leitores dos anos 60 do que a fantasia.
Ao longo de toda a sua juventude, um certo fã da série ficou se indagando o que aconteceria se o personagem tivesse esquecido sua palavra mágica e as implicações deste esquecimento no mundo ao seu redor. O fã, um cartunista chamado Alan Moore, teve a chance de desenvolver esta ideia a partir de 1982, quando, junto com outro projeto seu, V de Vingança, foi contratado pela revista Warrior para contar as novas aventuras de Marvelman.
Na série, o desmemoriado Mike Moran, agora um jornalista quarentão casado, redescobre seu mantra e inicia uma interessante jornada de autodescoberta que o levará a tomar importantes decisões que afetarão todo o mundo.
Já na Eclipse Comics, através de Neil Gaiman, Marvelman se chamava Miracleman
Adaptado para os anos 80, o personagem descobriu ser não só parte de um experimento militar secreto como também que todas as suas aventuras anteriores eram memórias implantadas por seu suposto pior inimigo, o Doutor Gargunza – na verdade, um dos cientistas responsáveis pela criação dos vários super-humanos que surgiram na série.
Sem as pressões das grandes editoras, o título foi usado para fazer diferentes experimentos e exercícios de estilo tanto por Moore quando por Neil Gaiman, que deu continuidade ao título após a saída de Moore. Quando saiu, Moore cedeu os direitos autorais do título a Gaiman, que teve de enfrentar o pior inimigo de um autor: a falência de uma editora.
Com o cancelamento da Warrior, a série foi negociada com várias editoras americanas. Já com o nome trocado para Miracleman(exigência da Marvel Comics), o personagem ganhou um título solo pela Eclipse Comics, que não só publicou em nove números tudo o que havia saído na revista anterior como deu continuidade à série até também falir.
Com a falência, recomeçou o calvário de Gaiman que, na luta para retomar os direitos do personagem, decidiu fazer um trato com Todd McFarlane, criador do Spawn e dono de uma importante fábrica de bonecos americana. Segundo o trato, Gaiman criaria personagens e escreveria algumas histórias que gerariam um ressarcimento alto o bastante para que ele comprasse os direitos de publicação do herói. Agindo de má fé, McFarlane comprou os direitos do personagem e começou a usá-lo em um de seus títulos, o que foi o estopim de uma briga judicial pelos direito que só terminaram quando Alan Moore, Joe Quesada (na época, o todo poderoso da Marvel) e outros quadrinistas interessados em ajudar Gaiman descobriam que Mick Anglo ainda estava vivo, e que na verdade todos os direitos do personagem ainda eram dele.
Marvelman na Marvel Comics

Com essa solução deux ex machina, a Marvel, para quem Gaiman havia feito alguns projetos para angariar fundos que garantissem a continuidade de seu processo contra o criador de Spawn, comprou os direitos do personagem que então voltou a se chamar Marvelman.
Entretanto, desde 2009, apesar de prometido, nenhum material inédito foi relançado, apenas algumas das histórias originais de Anglo. Os leitores interessados em ler não apenas os 25 números criados por Moore e Gaiman como também a continuação escrita pelo segundo aguardam apreensivos o anúncio da resolução de todas as complicações envolvendo os direitos destas histórias, que aparentemente foram publicadas sem a permissão do artista original, o que cancelou todos os direitos de publicação das mesmas.
Segundo Alonso, em 2013 o personagem trará grandes novidades.  A nós, fãs, e aos curiosos resta apenas esperar e sonhar com o anúncio que temos aguardado ansiosamente há quase duas décadas.

HQ: Os Quadrinhos Foram Ocupados

Tudo é política. E nos quadrinhos não é diferente. Por mais que se tente manter o status quo, sempre somos levados a conhecer visões políticas alternativas.
Depois de movimentos tanto criticados como elogiados (como anarquia, fascismo, nazismo e contracultura) terem sido introduzidos no universo dos quadrinhos, chegou a vez do Movimento Occupy. A iniciativa ganhou o conhecimento mundial em 2011 com a manifestação Occupy Wall Street, na qual os participantes se vestiam com máscaras de Guy Fawkes, um dos responsáveis pela conspiração da pólvora do século XIX na Inglaterra e inspiração para o protagonista da série V de Vingança, criada em 1982 pelo Inglês Alan Moore.
Capa da publicação nº1 da Ocuppy Comics
Os manifestantes alegavam representar 99% da população, uma maioria esmagadora e insatisfeita que reclamava de temas importantes, como a desigualdade social, o abuso das corporações e a manipulação da mídia, entre outros. Segundo acreditavam, tais assuntos eram responsáveis pela precária situação financeira do outrora mais poderoso país do mundo. Simpatizantes ao redor do globo organizaram manifestações semelhantes reclamando de problemas locais, enquanto hackers seguidores da filosofia, chamados Anônimos, chegaram a fazer sérias ameaças aos governos, demonstrando seu poderio ao deixar sua marca nas páginas principais de vários sites governamentais e midiáticos.
Com o intuito de divulgar sua mensagem utilizando o mais popular dos meios, foi criada a Occupy Comics, uma antologia de quadrinhos que narra histórias baseadas na filosofia do movimento. O projeto, que ganhou o apoio de nomes de peso, como o próprio Alan Moore,Robert Kirkman (“The Walking Dead”) e Ben Templesmith (“30 Dias de Noite“), foi colocado na rede de Crowdfunfing Kickstarter, e a renda das vendas da antologia será revertida para o movimento. Para isso, foi criado o selo/editora Black Mask, que não só produzirá a revista como terá outros projetos paralelos que, apesar de aparentemente destoarem da filosofia, podem ser levados para outras mídias e assim captar mais dinheiro para os membros do Occupy.

Apesar da polêmica de alguns títulos e seus propósitos, a ideia de se implantar uma produção em quadrinhos coletiva voltada para o bem comum não só é atraente como um divisor de águas. Até então não se tinha notícia de outros quadrinhos que tenham manifestado tão claramente sua posição política. Além do mais, é provável que a premissa de ser algo ao mesmo tempo panfletário e rentável possa prolongar a vida do Occupy, que não só passará a ser autossustentável como terá um importante braço midiático.

Na quarta-feira passada, dia 23/05, a loja de quadrinhos nova-iorquinaForbidden Planet foi ocupada para o lançamento da revista, numa prova da alta receptividade dos leitores e da viabilidade da novidade que, se bem administrada, chegou pra ficar.


HQ: Carta aos fanboys Xiitas (ou: take a smile, boys)

Defina bom e ruim.

A mais nova adaptação do Superman para as telonas
Bom é o que satisfaz suas expectativas e ruim é o que não satisfaz, certo? E isso vale tanto para bens de consumo quanto para gostos. Levando-se em conta que lazer é um bem de consumo, consumidores insatisfeitos têm todo o direito de reclamar de seus investimentos, mas nem sempre de seus gostos.
Gosto é impessoal e intransferível. O que agrada a um desagrada a muitos e vice-versa.
Cinema é um lazer consumível que, volta e meia, tenta adaptar outras mídias para a sua linguagem.  Algumas vezes com sucesso, outras nem tanto. E o que diferencia um sucesso de um fracasso pode passar pelo gosto. Filmes são feitos com a linguagem de seu tempo e nem sempre com a intenção de agradar a grupos específicos. Filmes sobre quadrinhos, por exemplo, até tentam agradar leitores de quadrinhos, mas se eles fossem o único público alvo os estúdios já teriam desistido na primeira crítica.
A trilogia de Christopher Nolan deu novo rumo às adaptações de quadrinhos para o cinema
Os leitores crescem com os quadrinhos e muitas vezes chegam a mimetizar o código moral ou acreditam que suas vidas se assemelham a de seus personagens preferidos.  Escapismo ou transferência, a verdade é que por um longo período de suas vidas eles se sentem íntimos de seus heróis de papel. Sendo a intimidade uma forma de possessão, os fanboys mais radicais se manifestam contra alterações com uma fúria capaz de queimar qualquer filme já em seu lançamento.  O pior é que a maior parte dessas críticas é baseada no gosto pessoal, mas por elas terem sido proferidas pelos formadores de opinião de então, tem mais poder do que os comentários de quem viu e gostou; muitas vezes, a maioria.
Alguns estão certos, outros errados e muitos perdem a razão em suas reclamações, mas a verdade é que as adaptações transmídia precisam falar a linguagem do momento no qual são produzidas ou serão desastres de bilheteria. E nenhum estúdio quer perder dinheiro. Aliás, foi por isso que super-heróis ficaram quase uma década fora das telonas.
Homem de Ferro abriu um mundo de possibilidades à Marvel
Mas o que torna um filme um fracasso comercial independe da ira dos leitores de quadrinhos. A verdade é que muitos estúdios não entendem a força dos ícones da cultura pop e se esquecem de que boa parte destes personagens existe há pelo menos meio século. O Superman, por exemplo, completa 75 anos neste ano e foi presenteado com um novo longa que felizmente tem recebido boas críticas desde o seu lançamento lá fora. Levando-se em conta que, após a conclusão da trilogia Batman, o peso da continuidade do universo cinematográfico da DC Comicspairava tanto sobre os ombros de aço doKriptoniano quanto dos de seu criticado diretor humano, os fãs podem respirar aliviados, pois, aparentemente, esta será a melhor adaptação do personagem em 30 anos.
O universo Marvel, por sua vez, acertou bastante desde o primeiro “Homem de Ferro” e investiu em algo que os roteiristas pareciam ter esquecido até então: a caracterização. Você reconhece os personagens e seus dilemas básicos.  São atualizados para funcionar  em uma trama de duas horas? Sim, são. Infelizmente, algumas adaptações irritam os fãs deste ou daquele personagem, mas funcionam dentro da proposta e poucos realmente reclamam. Como já disse antes, não se pode agradar a todos (nem creio que seja esta a intenção), mas a verdade é que justamente por termos nerds de quadrinhos dentro dos estúdios, os personagens nunca foram tão bem adaptados quanto têm sido na última década.
"Estrada Para Perdição", uma excelente adaptação que de quebra levou um Oscar de Melhor Direção de Fotografia e outras 5 indicações
Existem adaptações ruins? Sim.
Podemos citar “X-Men Origens: Wolverine“, “Lanterna Verde“, “A Liga Extraordinária” e muitos outros que me vêm à cabeça neste momento. O ponto é que, salvo raras exceções, o público que paga pra ver um ícone da cultura pop e não conhece os quadrinhos do personagem gosta do que vê. Isso faz com que o estúdio tente acertar para abocanhar uma fatia maior de público, em uma tentativa que tem levado às telonas tanto blockbusters óbvios quanto filmes baseados em quadrinhos independentes, como “Estrada para a Perdição“, “Os Homens que não Amavam as Mulheres“, “Scott Pilgrim Contra o Mundo” e “Mundo Fantasma“, por exemplo.
"A Liga Extraordinária", um desperdício de ótimos personagens em uma péssima adaptação
Já repararam que todos ganham com isso? Após um longo inverno onde víamos adaptações de péssima qualidade que não agradavam nem mesmo ao público em geral, somos brindados não apenas com a excelência visual de “Os Vingadores“, cuja narrativa e caracterização estão muito bem amarradas, como ainda ganhamos de brinde histórias alternativas interessantes. Mesmo que ainda não tenham encontrado a fórmula de como agradar a Daleks e Romulanos (gregos e troianos, se preferir), adaptar quadrinhos voltou a ser um bom negócio para os estúdios agora.
Goste você ou não!
Os Vingadores das HQs e suas personificações nas telonas. Será que funcionou?

Críticas e cia Ltda

Eu não imaginei que voltaria ao assunto tão cedo, mas sempre me espanto com o quanto a cultura pop pode se tornar repetitiva.  E se é assim, quem sou eu pra reclamar?

Esta semana foram divulgadas três novidades “assassinas”: o novo Batman, o redesign do Lobo e o novo gibi do casal Supermaravilha. Resultado: ódio instantâneo. Goste você ou não, no mundo de Harry Potter e Crepúsculo os personagens precisam mudar (de novo) ou perdem a penetração.
É o caso do novo título Superman /Mulher-Maravilha, uma DR mensal de 22 páginas. Os dois estão namorando, e coisas assim são inevitáveis, certo? Quando o desenhista Tony Daniel comentou que a pegada do novo projeto segue a linha da cine série “Crepúsculo”, os fã começaram a temer não só pela sexualidade dos personagens como pela qualidade das histórias, que para acontecer passaria a depender de tons eróticos obscuros.
Verdade ou exagero, este é um caso em que você compra se quiser, afinal, os dois personagens estão em vários títulos, cada um com sua interpretação do que seriam suas aventuras. Escolha seu tom preferido e siga em frente.
Já o Lobo…  Ah, o Lobo…
As imagens da nova versão do personagem foram divulgadas num dia e, já no dia seguinte, a roteirista da edição que o reintroduz nos Novos 52 tuitou que aquela não era a versão que apareceria na revista, o que nos leva a duas possibilidades: a editora está cometendo erros tolos devido ao Alzheimer ou simplesmente mudaram tudo devido à repercussão negativa.  Mais uma das muitas nestes últimos dois anos.
O massudo Lobo original e o atual Lobo do "Crepúsculo"
E afinal, qual Robert será o novo Lobo? Rob Zombie ou Robert Pattinson? Em breve descobriremos, mas não dá pra saber se gostaremos da resposta.
Mas e o bamb…digo, o Batman? Vamos combinar que foi à toa?
Adan West como Batman
Batman 66 foi um grande sucesso editorial e seu maior triunfo foi exatamente trazer de volta a versão mais criticada do personagem, vivida por um ator barrigudo. Se Adam West é incensado, o que faz Ben Affleck ser execrado? Como o Batman interpretado pelo diretor de “Argo” pode ser pior do que aquele que todos tentaram apagar décadas atrás? O ex-ator preferido de Kevin Smith recebeu até ameaças de morte sem que sequer tenhamos visto sua versão do personagem. Gente, o “Demolidor – O Homem Sem Medo” tem mais de uma década, o cara já ganhou um Oscar e até interpretou um Superman nos cinemas. E lamento informar: “Hollywoodland – Bastidores da Fama” não só é um bom filme como a interpretação dele agrada. Ele é um bom ator (um dos meus preferidos).
O mundo mudou, os títulos acompanharam e as editoras e estúdios estão testando conceitos que podem agradar ou não. Vivemos numa era declaradamente transmídia, algo que pode ofender alguns e agradar outros, principalmente devido às reinterpretações de personagens e de situações que vivem nas nossas lembranças ou formaram nosso caráter. Não é uma novidade, afinal, se os quadrinhos permanecessem sempre os mesmos nunca teriam chamado nossa atenção. A grande verdade é que pela primeira vez em muito tempo temos opções e podemos consumir outras versões dos personagens que nos agradem mais. Mais importante ainda é não criticar o que ainda não saiu. Nunca tire conclusões precipitadas.
Agora, se nada te agrada…  Que tal aproveitar as facilidades da modernidade e criar suas próprias histórias? Experimente. Pode ser divertido.
Ben Affleck, O Homem Sem Medo, o único a interpretar um herói Mavel e 2 heróis da DC no cinema

O mundo é gay (e você está nele)!

O mundo é gay

(e você está nele)!


De uns anos pra cá, os quadrinhos têm saído do armário. Personagens gays de diferentes importâncias surgiram, ao passo que outros – mais conhecidos do público – tiveram sua preferência sexual alterada para os tempos modernos. Só pra ilustrar, recentemente foi anunciado o (suposto) primeiro transexual dos quadrinhos (Alysia Yeoh, colega de quarto de Barbara Gordon, a Batgirl); o título do Superman escrito por Orson Scott Card foi cancelado devido ao ativismo de seu autor contra os direitos gays; a venda de um título foi bloqueada pela Comixology como resultado da questão GLBT; casamentos gays foram anunciados; e um Lanterna Verde saiu do armário depois de quase um século de virilidade.
Apesar de todas as reações contrárias ou a favor, olhando mais a fundo descobrimos que o mundo dos quadrinhos sempre foi gay, nós é que não percebíamos (ou não lembrávamos).
Embora seja um bom exemplo do espírito de sua época, o “Boom Gay” chama mais atenção pela quantidade do que pela originalidade. Afinal, apesar de ser mais uma tentativa das editoras de encaixar a diversidade do momento de forma extremamente chamativa – e por vezes desnecessariamente polêmica – em  suas páginas para vender mais gibis, não é nenhuma novidade. Sempre existiram personagens gays, a diferença é que em sua época, e apesar de terem gerado alguns comentários, todos foram inseridos dentro do  contexto da história e não como estratégia de Marketing.
O polêmico livro do psiquiatra Fredric Werthan
A grande verdade é que os gays sempre existiram nos quadrinhos. A própria Mulher Maravilha, criada numa ilha só de mulheres, é um bom exemplo disso. O plano da editora de revelar este detalhe caiu por terra com o surgimento do livro A Sedução do Inocente, deFredric Werthan, que, entre outros danos, acusou Batman e Robinde serem não só um casal gay mas também um caso de pedofilia. Com dois de seus mais importantes personagens queimados para sempre, os editores de quadrinhos foram forçados a ficar na retranca e amenizar seus temas para não “destruir mentes infantis inocentes” (uma das muitas acusações do livro). Em plena caça às bruxas dos anos 50, qualquer movimento contrário ao status quo da época teria assinado a sentença de morte de nossa mídia preferida.
A década de 1960 trouxe uma série de questionamentos e todos passaram a lutar pelo seu espaço. A Rebelião de Stonewall, que culminou na primeira parada pelos direitos GLBT da história, foi um importante passo para a mudança na forma como este grupo passou a ser visto pela sociedade. Não levou muito tempo para que criadores, gays ou não, começassem a testar personagens que revelariam sua sexualidade num momento propício. Nem todos autores tão famosos e ainda atuantes como Gail Simone e Bill Sienkiewicz, mas todos gostariam de se ver representados em sua mídia de escolha. E foi o que fizeram. A partir dos anos 70, fomos conhecendo personagens que, além de gays, ainda protagonizavam ou eram importantes dentro de algum título.  Estrela Polar, Flautista, Apolo e Meia Noite, a travesti Dagmar, da série Black Kiss, Hopey e Maggie, da série Love & Rockets, Batwoman, Maggie Sawyer e muitos outros, num processo criativo que começou nas editoras pequenas e migrou para as grandes.
Estraño, um dos grandes erros da abordagem gay nos quadrinhos

Até acertar, as grandes cometeram erros crassos, como o Estraño, criado em 1988 pela DC Comics numa tentativa estereotipada de incluir duas minorias na mesma história. Além de afetadíssimo, o personagem também era latino. Resultado: o personagem não emplacou e alguns leitores ainda perguntaram quando ele seria curado. Ele não só foi curado como devidamente apagado da continuidade.
Convém lembrar que os quadrinhos (até bem pouco tempo) sempre foram lidos por garotos, o que permite a existência de personagens lésbicas ou polissexuais, como as europeias Barbarela e Valentina, que viviam a liberação sexual dos anos 60. Gays masculinos, entretanto, não faziam parte das fantasias dos leitores, o que impedia a identificação imediata com o personagem.  Esse lapso foi corrigido um pouco mais tarde com a inserção de personagens que, apesar de sua sexualidade, são exemplos heroicos ou de anti-heróis que dialogavam com os questionamentos do leitor na época de sua criação. Apolo Meia-Noite, que não apenas se casaram como adotaram uma criança, ilustram bem como trabalhar dois personagens gays sem que nunca deixem de ser vistos como os personagens mais perigosos de seu universo.
Fora dos Super-heróis, é sempre bom citar o sensível álbum autobiográfico “Pedro and Me”, de Judd Winic, no qual o cartunista conta o que aprendeu durante a convivência com o amigo aidético. Mas estes grandes momentos ficaram restritos aos independentes, onde os autores sempre tiveram mais liberdade criativa. Também é bom citar que a turma da Tina, do Maurício de Souza, ganhou (pelo menos) um personagem homossexual e a ultra conservadora editora Archie Comics conseguiu o feito de ter sido a primeira editora a publicar um casamento gay.
“Pedro and Me” de Judd Winic
Em 2011, com o evento Novos 52, a DC, que sempre foi uma editora mais conservadora em seus títulos de linha, resolveu atualizar seus personagens para os novos leitores e, identificando que a modernidade havia chegado, decidiu que seria o momento perfeito para introduzir protagonistas GLBT em suas páginas.
Apesar de suas escolhas sexuais não interferirem em sua conduta moral, personagens como o novo Alan Scott chamaram atenção devido a sua nova sexualidade. O Lanterna Verde Gay foi um dos assuntos mais citados na mídia mundial, inclusive no Brasil, onde gerou duas curiosas polêmicas: além do erro cometido por vários programas que comentaram a situação apresentando o Lanterna Verde errado, nosso país, tido como extremamente liberal, foi o que menos aceitou a mudança.  Leitores brasileiros fizeram verdadeiras declarações de ódio ao novo status quo, o que chegou a ser citado até no site inglês Bleeding Cool, que passou a dar mais atenção a nosso país a partir do incidente.
Batgirl e Maggie Sawyer também agitaram as páginas da DC Comics
Iniciada a era dos Beijos Gays, da qualWolverine e Hercules também participaram, passamos para a fase dos casamentos. O primeiro deles, a resposta da Marvel ao “Boom Gay”, foi o do Estrela Polar com seu então namorado, nas páginas de um dos títulos dos X-Men. Esse matrimônio será seguido pelo de Maggie Sawyer e Batwoman e, numa terceira fase, iniciada em Batgirl 19, foi anunciado o primeiro personagem transgênero da era moderna.
O mundo é gay e os nossos personagens preferidos estão nele. Se isso vai durar ou se será só mais uma modinha, não se sabe. Por enquanto, o fator GLBT parece mais uma muleta polêmica para alavancar as vendas de determinados títulos do que uma declaração de respeito e igualdade. Mas a verdade é que já estava na hora de termos mais inclusão das HQs mainstrean, que quase morreram nos anos 1950 devido a xenofobia americana criada por pequenos grupos e seus representantes que temiam uma mudança social inevitável.
E no âmbito nacional, Maurício de Souza não fecha os olhos para a questão - vide a Turma da Tina

Mônica para todas as idades

Apesar da Turminha ser um dos maiores produtos de exportação brasileiros e praticamente os únicos quadrinhos a sustentar uma indústria que nem sempre anda com as próprias pernas, além de ter sido o primeiro emprego de muitos dos artistas que conhecemos hoje em dia, infelizmente depois de certa idade a gente fica com vergonha de ler; é de criancinha e tal…
Eu parei de ler aos 15 anos, quando me encantei pelos super-heróis. Histórias arrojadas, aventura incessante e o desenho… Ah, o desenho… Confesso que só peguei uma revista da Mônica depois de velho quando tentei ensinar português pra uma chinesa. E nem isso adiantou, pois ela arrastou meu Sin City. Ela gostava de temas mais adultos.
Cascão, Cebolinha, Mônica e Magali
Temas mais adultos‘ parece ser a motivação chave. Ler personagens que não evoluem enquanto envelhecemos e morremos é complicado. Turma da Mônica Jovem resolveu isso e ganhou os leitores que migram pro Mangá. Além disso, há indícios de uma versão adulta dos personagens vindo por aí.
Até lá, especiais da Série MSP 50Ouro da Casaou uma das Graphic Novels lançadas de 2012 pra cá mostraram que, sob outra ótica, os personagens deMaurício de Souza podem render histórias bem ousadas, emocionantes e experimentais.
Astronauta: Magnetar, de Danilo Beyruth, que descortinou uma viagem pela solidão do personagem; Turma da Mônica Laços, de Victor e Lu Caffagi, onde a turminha segue numa missão de resgate; e o recente Chico Bento: Pavor Espaciar, de Gustavo Duarte, que narra a visita de Aliens à Vila Abobrinha, são revistas que podem ser lidas por todas as idades, sem vergonha.
Vamos poder envelhecer e continuar lendo a turma da Mônica com a certeza de que não estaremos fazendo pela nostalgia, afinal, vamos ver sempre novidades da turminha para todas as idades.
Que tal aproveitar e abandonar o preconceito você também? Pode acabar se surpreendendo.
































Turma da Mônica Laços

Wolverine: Papai Carcaju

Papai Carcaju.

Recentemente, durante o arco “Cisma Mutante“,Wolverine rompeu relações com Ciclope e sua facção de X-men. O motivo? Usar adolescentes como soldados ia contra os princípios de um homem que é o melhor no que faz, mas o que faz não é tão bom assim.
Estranho? Não. Desde os anos 80 Logan tem demonstrado um paternalismo latente com as menininhas X. Primeiro foi Kitty Pryde, depois JubileuVampira Armadura, até culminar em Oya, sua mais recente protegida e motivo da cisão mutante.
Kitty Pride e Wolverine
Saber o tipo de mundo que aguarda alguém como ele pode ser um belo motivo para evitar que outros se tornem seus iguais. Foi o caso de Kitty, que se tornou uma assassina a mando de um de seus piores inimigos de então, o que forjou um elo entre os dois. A mais jovem X-men dos anos 80 acabou sendo treinada pelo canadense e anos mais tarde até se inspirou nele, usando suas garras como forma de defesa. No caso de Jubileu, bem… Ser salvo da morte por uma adolescente que vivia infiltrada no esconderijo de seus inimigos certamente forja elos. E diferente da adolescente anterior, a personalidade da pupila dos anos 90 contrastava totalmente com a sua. Com o visual criado a partir da Carrie Kelley de O Cavaleiro das Trevas, a adolescente criada durante a Batmania dos anos 90 fez bem as vezes de Robin do personagem.
Vampira, vilã reformada que na primeira aparição quase matou uma de suas amigas, foi um caso de antipatia gratuita desde o primeiro momento que se tornou um elo de respeito durante uma das primeiras missões juntos. Inclusive, o sentimento foi um dos principais fatores para o rejuvenescimento da mutante, uma vez que em suas primeiras aparições ela foi retratada como estando por volta de seus 40 e tantos anos.
Se esse lado paternal causa estranheza aos fãs do Wolverine sanguinário e sombrio, é bom lembrar que o Batman passou pelo mesmo tipo de humanização ao longo das décadas. Ligações com adolescentes são a melhor forma de aproximar qualquer personagem de seu leitor.
Wild Thing
Por outro lado, uma forma de manter laços ainda maiores é tornar o personagem um pai de verdade, seja biológico ou adotivo. Daí que a prole do Logan foi aumentando. Sua primeira extensão foi Amiko Kobayashi, órfã que perdeu os pais durante uma das missões de Wolverine com os X-men. Consternado, pediu para que sua amadaMariko criasse a menina como filha dos dois. Após a morte de Mariko, foi criada por Yukio, amante Ronin do personagem.
Mesmo um pai conturbado pode ter filhos naturais. Quando definiram que o personagem já havia passado dos cem anos e perambulado por todo o mundo, rebentos peludos pareceram inevitáveis.
A primeira tentativa foi a Wild Thing (sem tradução para o português), que seria a filha de Wolverine e de Elektra (casal improvável criado na virada do milênio) num futuro alternativo conhecido comoM2. Diferente do pai, ela possuía garras psionicas. O título da personagem não foi pra frente e ela foi passear no limbo das ideias mal usadas. A segunda foi a X-23, seu clone feminino que fez sucesso na animação “X-men Evolution” e não tardou a migrar para os quadrinhos. Apesar da ligação biológica, por um bom tempo o laço entre os dois foi o mesma das meninas anteriores: um mentor que protegia e cuidava para que a parceira não se perdesse do caminho.
Wolverine com Daken no colo
Se por um lado suas filhas seguem seus passos, seus filhos optam por outras estradas. Um bom exemplo é Daken, o Wolverine Sombrio. Criado para recuperar o conceito de Wolverine psicopata dos anos 70/80, o vilão tem vários assuntos inacabados com o próprio pai, a quem culpa pela morte da mãe. Apesar de todas as tentativas de apaziguar a situação, os dois seguiram caminhos distintos até finalmente se unirem contra Romulus, o arquiteto do infortúnio dos dois. Bissexual e amoral, o personagem transitou entre grupos clássicos, como o Quarteto Fantástico, e os nada recomendáveis, como a primeira versão dos Vingadores Sombrios. Romulus, o vilão que manipulou não apenas os dois como vários eventos da vida de Wolverine, também é um suposto filho do mutante.
E pra fechar a lista, temos os “Mongrels”, grupo de mercenários que se especializaram em infernizar a vida do canadense e foram mortos por ele, que pouco depois da chacina descobriu que todos eram seus filhos. Devastado, ele os enterrou nos túmulos de suas mães e tentou acertar as coisas com seus filhos ainda vivos, quando descobriu que Daken estava morrendo e teve de enfrentar mais um de seus rebentos problemáticos. Nova Iorque e sua população de super-heróis foram salvas da fúria do Wolverine Sombrio; o original, entretanto, saiu com diversas cicatrizes em sua alma.
Não é fácil ser pai quando você é o melhor no que faz, mas o que faz não é bom. Mesmo assim ele tem tentado. Nem sempre com sucesso, mas continua sendo uma figura paterna em seus tempos livres.

Wolverine: Made In Japan

Made In Japan.

A ascensão de Logan se deu nos anos 80, momento propício para este tipo de personagem.
O ponto de partida editorial foi a minissérie “Wolverine“, escrita porChris Claremont e desenhada por Frank Miller, cujo arco marcava o retorno do personagem ao Japão para tirar satisfações com o pai deMariko Yashida, que a impedia de responder suas cartas e telefonemas.
Chegando na terra do sol nascente, foi logo atrás do pai de sua amada. Para se certificar de que não perderia a luta, Shingen Yashida, pai de Mariko e líder do clã homônimo, convocou sua assassina para envenenar o canadense, que foi humilhado numa luta com espadas de madeira. Derrotado e arrasado, o Carcaju jurou vingança e após uma série de entraves, não só eliminou o vilão da terra dos vivos como decidiu que permaneceria no Japão para recuperar a honra do Clã de sua amada.
Convite de casamento de Wolverine e Mariko
Convidados para o casamento, os X-men foram dar suas congratulações ao amigo e terminaram implicados numa história cheia de intrigas políticas envolvendo os vários pretendentes ao posto de mestre do Clã Yashida, entre eles o Samurai de Prata, que a partir desta história passaria a participar da mitologia do personagem. Foi nessa aventura queTempestade fez seu famoso corte punk, ressuscitado recentemente nos quadrinhos.  Também foi nessa história que o caso entre ela eYukio, a Ronin que envenenou Wolverine na minissérie homônima, é sugerido.
Para a infelicidade de Logan, Jason Wingarde, o vilão também conhecido como Mestre Mental, entrou no páreo para se vingar dos filhos do átomo e controlou sua amada, que não só desfez o casamento como o rejeitou. O casamento foi cancelado e continuou suspenso mesmo após a derrota do vilão. Os dois retornaram para suas vidas, mas com o mesmo carinho de antes, o que fez comque Logan sempre voltasse para ela, muitas vezes para salvar seu clã de algum envolvimento sombrio. E acredite, foram tantos reencontros que ela morreu nas mãos do canadense anos depois.
Numa outra viagem, ele precisou impedir que a X-men adolescente Kitty Pryde fosse controlada pelo ninja Ogun, um de seus antigos mestres. Desconfiada das novas relações comerciais de seu pai, Carmo Pryde, Kitty pede ao Professor Xavier para investigar as conversas entre Mr. Pryde e seu novo chefe japonês. Para seu desespero, o que parecia ser um acerto de negócios terminou sendo uma grande complicação com os Yakuza, a máfia japonesa, que comprou o banco no qual Carmo trabalhava para lavar dinheiro. Quando ele foi sequestrado e enviado para o país do Kabuki, ela decidiu salvá-lo; e como antes de dar certo tudo piora muito, a mutante passou por vários percalços, tendo até que roubar um caixa eletrônico e dormir na rua. Quando, por fim, ligou para a mansão X para pedir ajuda, a moça ficou sem jeito de falar de seus problemas com o irascível baixinho peludo com quem nunca teve a mínima intimidade. Entretanto, é justamente ele que vai seu resgate.
Wolverine e Samurai de Prata por Paul Smith
Após descobrir o problema com o pai da menina e salvá-lo de seu sequestrador, Logan sai em busca da colega de equipe, que acabou enfrentando sem saber que a ninja cuja habilidade se equiparava à sua era na verdade Kitty. Quando a máscara da oponente caiu e foi descoberto que ela era na verdade a jovem X-men submetida a uma lavagem cerebral, o experiente herói fez de tudo para trazer sua personalidade de volta à superfície. Auxiliado por Yukio, Wolverine salvou o pai da menina e fez com que ela confrontasse Ogun, seu antigo mestre. Ao ter a chance de executar seu algoz, Kitty não conseguiu, tarefa esta que coube ao mutante com as garras de adamantium.
Essa história serviu para estabelecer o status heroico de Kitty, que passou a assumir a alcunha de Lince Negra (Shadowcat no original). Em seu arco, Wolverine e a moça estreitaram laços, e a amizade e o respeito que um passou a ter pelo outro perduraram ao longo dos anos, o que fez de Kitty a primeira adolescente parceira de Wolverine.
Ao longo dos anos, o Japão foi o tema de várias histórias de Wolverine, mas poucas histórias tiveram o peso destas, que alteraram o status quo do personagem.

Artes Inéditas de Histórias da Bíblia

Apesar de ter tido uma edição publicada, a proposta da série Histórias da Bíblia era narrar todas as histórias contidas neste que é um dos ...