Publicado originalmente no
Impulso HQ
O que você diria quando descobrisse que um dos fã-clubes mais influentes do Brasil venera uma série que poucos conheciam e que ganhou fama devido a união de seus apreciadores? Estes são os Whovians, nome dado aos fãs de Doctor Who que conseguiram não só levar sua série preferida para a TV como para os cinemas de quase todo o País.
Curiosamente, a maioria destes fãs nasceu depois do hiato da série clássica, que foi exibida entre as décadas de 1960 e 1980. Mesmo pegando apenas a atual, que está no ar desde 2005, a maioria se interessou pela série clássica e seus derivados conhecendo rapidamente os 50 anos de história de seu personagem preferido.
Aproveitando a deixa do especial que foi exibido dias 23 e 24 de novembro nos cinemas em todo o mundo, convidamos três membros do grupo para uma conversa sobre a série. São eles: Matheus Moura, responsável pelo primeiro site dedicado exclusivamente à série e coordenador das traduções dos episódios, Patrícia Duarte, fanzineira, mãe e administradora do grupo Whovians RS e Yasmine Monteiro, moderadora do Whovians RJ e parte do grupo que organiza os eventos e as reuniões do grupo carioca.
Eles são a prova de que quando há um gosto em comum, todas as diferenças se dissipam.
Impulso HQ: Quando você conheceu a série?
Matheus Carvalho - 2007 ou 2008
Patrícia Duarte – Foi a̶ ̶l̶o̶n̶g̶ ̶t̶i̶m̶e̶ ̶a̶g̶o̶ ̶i̶n̶ ̶a̶ ̶g̶a̶l̶a̶x̶y̶ ̶f̶a̶r̶ ̶a̶w̶a̶y̶ em 1987, o arco Time and the Rani com o 7º doutor, Sylvester McCoy. Tive que passar pelo hiato tenebroso de quase 20 anos >_< (só fui assistir o tele filme de 1996 pouco antes de ver a estreia de Rose, em 2005).
Yasmine Monteiro - 2006, se não me engano. Via esporadicamente e só um tempo depois comecei a acompanhar a série
Impulso HQ: Fale um pouco sobre o Fandom. Como você o vê?
Matheus Carvalho – O fandom é uma grande bola de timey wimey wibbly-wobbly, tem muitas discordâncias, rola até concorrência, mas acho que no fim das contas ninguém sai perdendo.
Patrícia Duarte - It̶’̶s̶ ̶a̶l̶l̶ ̶a̶ ̶b̶i̶g̶ ̶b̶a̶l̶l̶ ̶o̶f̶ ̶w̶i̶b̶b̶l̶y̶ ̶w̶o̶b̶b̶l̶y̶ ̶t̶i̶m̶e̶y̶ ̶w̶i̶m̶e̶y̶ É uma imensa família, e como em toda família são muitos pontos de vista, preferências, personalidades que diferem entre si, mas com algio em comum que os une, e nesse caso, a coisa que une o fandom de Doctor Who, é um maluco de dois corações numa caixa azul. Bem como quando a família se reúne e deixa de lado as diferenças, no Natal por exemplo, a diferença, é que nosso Natal dura o ano inteiro.
Yasmine Monteiro - É um fandom lindo, com pessoas que acreditam num mundo melhor, o que é inspirador de se ver nos dias de hoje, pois somos todos muito cínicos.
Impulso HQ: Como é ser fã de uma série que ninguém conhece?
Matheus Carvalho – Mas ora pois, Doctor Who hoje em dia é extremamente bem conhecida em termos de seriado.
Patrícia Duarte - Durante muito tempo não tinha muita vontade de falar sobre Doctor Who, já que as únicas pessoas que eu conhecia, que partilhavam do meu amor por ela, moravam há milhas e milhas de distância, era uma atividade solitária. Com o tempo e com o proselitismo Whovian crescendo cada vez mais dentro de mim, fui sendo impelida a porque não espalhar a palavra.
Mas é muito interessante ver, que por mais que as pessoas não conheçam tanto a série por aqui, elas reconhecem suas referências.
Yasmine Monteiro – No começo foi difícil, você procura fãs até de baixo de pedra! Hoje já é uma série bem popular, então não tem muito problema.
Impulso HQ: Matheus, você começou com 13 anos. Como alguém tão jovem consegue ser um dos mais antigos fãs da retomada da série?
Matheus Carvalho – Olha, isso foi meio espontâneo…Sempre quis conhecer gente com mesmos interesses e após terminar de ver a atual, passei a traduzir a clássica e postá-la no Universo Who. Acho que essas duas coisas, minha curiosidade e meu comprometimento a postar no site, me colocaram nessa posição
Impulso HQ: Matheus, você é o cabeça do Universo Who. Entrou depois que o Rod Reis e o Breno saíram, né? Como é manter o mais antigo site dedicado a série?
Matheus Carvalho - Então, uma correção. O Rod nunca fez de fato parte da equipe. Ele era o dono do podcast do Universo Who, digamos assim. Entrei na equipe do site na primeira metade de 2010 ainda sob a administração do Breno, que resolveu sair do site após termos problemas com a hospedagem gratuita no wordpress, isso em Setembro de 2011. E é extremamente fortuito manter o site. Afinal, foi por meio dele que vi a série atual e comecei a me interessar pela clássica. É muito satisfatório observar, que com o passar do tempo, a quantidade de views só aumenta.
Impulso HQ: A série foi mantida pelos fãs. Traduções, divulgações e reuniões. Como foi todo esse processo?
Matheus Carvalho – Olha, a tradução da série moderna já era realizada por legenders aqui antes mesmo de qualquer site especializado nela surgir. Me sinto no direito de afirmar que as reuniões, os fã-clubes e toda a estrutura que temos atualmente no Brasil em parte têm a agradecer ao UW, que foi a gênese de tudo isso. Os primeiros encontros de fãs no país levaram a uma experiência muito bacana. Tive a ideia de fazer o primeiro piquenique em SP e isso levou ao surgimento de grupos estaduais, assim como o UW serviu de base e até mesmo de inspiração pra aparição de outros sites, que também depois serviram de inspiração pra que cada vez mais e mais páginas, sites e grupos whovians surjam no país.
Patrícia Duarte – Fã que é fã, quer sempre que mais e mais pessoas partilhem seu amor, desde sempre, mesmo antes das facilidades da internet. Eu mesma, recebi pelo correio, muitas fitas em Betamax de amigos de fora, com episódios, por correio…Old fashion way. E com o advento da internet, começamos a procurar e fazer o download do material da série, das outras mídias, e quem sabia inglês ia traduzindo e passando adiante.
Yasmine Monteiro – É lindo ver essa união de pessoas trabalhando de graça para ajudar os outros fãs que não sabem a língua. Temos esperanças que com o crescimento do fandom o pessoal da BBC traga as coisas pra cá e os fãs não tenham que se exaurir dessa forma.
Impulso HQ: Os fãs fizeram com que a série voltasse à TV depois de algumas décadas e ainda pressionaram para que o especial saísse nos cinemas. Como foram as negociações?
Matheus Carvalho – Olha, a volta da série mudou muito o universo dos fãs e trouxe um novo gás em tudo de Doctor Who. O formato mudou, o ritmo mudou, mas a série é claramente a mesma. Aqui no Brasil, posso dizer que o esforço conjunto de algumas figuras de destaque no fandom, conjuntamente com a articulação que nós e a BBC Latin America tivemos, influenciou muito na decisão do Cinemark de não só trazer salas pro Brasil, mas como levar o número para mais de 80 sessões espalhadas de Manaus à Porto Alegre! Se não fosse cada Whovian twittando, retwittando e usando as hashtags que a mobilização usou, duvido que teríamos chamado a atenção da cadeia de cinema.
Patrícia Duarte - Cada Fã clube do seu jeito, foi tentando fazer a série aparecer por aqui, para que o fandom brasileiro pudesse ganhar visibilidade. Os Fã sites, nós aqui no Sul com eventos, pelo menos duas vezes por mês. E em agosto a BBC nos convidou para conversar. De lá pra cá, temos trabalhado com eles incessantemente. Mandando material, números…Num primeiro momento, o canal de TV à cabo passaria aqui o especial, depois de algumas campanhas, um lobby forte, conseguimos a exibição no cinema. Com humildes 4 salas, e continuamos a campanha, que culminou em quase 50 salas em todo o país.
Yasmine Monteiro - Bom, não foram os fãs que pressionaram. A BBC trava precisando de um up e o RTD veio com a ideia do remake/retomada. Ele enfrentou ainda muita má vontade de dentro da companhia, que tem um histórico de querer cancelar Doctor Who a todo custo.
Impulso HQ: Como é o contato de vocês com a BBC?
Matheus Carvalho - Temos contato com gente da BBC Brasil e da BBC Latin America, já tendo participado de eventos como o BBC Showcase, que rolou no RJ esse ano. Foi juntamente à BBC que preparamos todo o esquema de cobertura do especial em cada cidade, que conseguimos resoluções para problemas que surgiram pela frente.
Patrícia Duarte - Surpreendentemente, é em day by day basis. Eles são incansáveis conosco, troca diária de e-mails, chat via Facebook, e até via telefone. Inclusive com disposição à qualquer horário. A equipe é extremamente atenciosa.
Yasmine Monteiro – Fomos abordados de surpresa para comparecermos a um Showcase da emissora no Rio e a partir daí eles mantém contato constante conosco e buscam a nossa ajuda sempre que preciso. É bom ver que eles realmente parecem se importar com o fã.
Impulso HQ: Como você se sentiu ao ver o filme? Foi uma sensação de vitória?
Matheus Carvalho – Foi uma sensação de dever cumprido. Senti como se pudesse desaparecer do fandom brasileiro e minha marca estaria lá, de certa forma, apesar das pessoas não necessariamente saberem.
Patrícia Duarte - Apesar dos problemas que o Cinemark impôs aos fãs gaúchos, com inclusive venda duplicada de ingressos, foi uma sensação indescritível. Confesso que chorei muito antes da exibição, pois como bom Capitão de navio, frente aos problemas ocorridos aqui em Porto Alegre, me senti na obrigação de acompanhar o processo até o fim, dando suporte aos fãs. Entrei na última sala, com atraso, pois foi necessário abrir uma sala extra para cobrir a demanda, e esta sala ainda estava ocupada por outra exibição. Mas no momento em que a exibição iniciou foi um misto de alívio e orgulho, pois a maioria das pessoas não faz a menor ideia do quanto os Fã Clubes trabalharam, de quantas noites mal dormidas, e também do custo de tudo isso, porque os fã clubes tiram do próprio bolso o dinheiro para os brindes e eventos. No final, foi pura magia. E perfeição!
Yasmine Monteiro – Bom, no meu caso específico foi mais que uma vitória, foi um alívio. Ver todo o evento que organizamos no planetário, juntamente com o CJRJ, dando certo me deixou exaltada.
Impulso HQ: O que você achou do filme?
Matheus Carvalho - Fantástico. Moffat fechou uma era da série, acabou com alguns furos de roteiro do RTD e fez um episódio recheado pra quem é fã da série como um todo, seja clássica ou moderna. (Mas quem é fã de clássica, com certeza aproveitou mais um pouquinho…)
Patrícia Duarte - Fiquei extremamente embasbacada com o resultado. Steven Moffat foi brilhante em sua homenagem aos 50 Anos e mais brilhante ainda a maneira como ele homenageou a Série Clássica! Ele proporcionou um fanservice, mas ao mesmo tempo preencheu algumas lacunas, e trouxe Gallifrey de volta. Que era um dos meus grandes desgostos da era Russell T. Davies.
Yasmine Monteiro - Ainda não tive tempo para digerir tudo, sabe? Mas no geral gostei bastante e achei interessante a forma que a série está tomando.
Impulso HQ: Se pudesse cruzar a sua própria linha do tempo, o que sua versão atual diria para a que começou a se interessar pela série? E para outros que possam estar tomando a mesma decisão neste momento?
Matheus Carvalho - No meu caso, garantiria que eu não parasse na série atual, que fosse atrás da clássica, isso mudou minha vida, me fez achar tantos amigos nos mais diversos lugares nesse país. Me trouxe satisfação pessoal e experiência pra vida. Para outros, diria algo parecido, continue vendo até o fim, não se contente só com isso, vá atrás de outros whovians e se maravilhe. A série e as amizades que fiz nesse fandom jamais serão esquecidas. Vai que o mesmo acontece contigo…
Patrícia Duarte - Eu diria à jovem eu de 1989, que chorou com um bebê na parada da série, que não ficasse triste, e fosse paciente, porque ela seria recompensada, demoraria alguns anos, mas seu amado Doutor voltaria, e voltaria com força total, cercado de companheiros interessantes, e vilões ainda mais assustadores, e que ela, por causa de Doctor Who, faria amigos para a vida toda, e teria a maior família que o amor pode gerar.
Yasmine Monteiro – Hahahahahahaha! Nossa, difícil pensar nisso! Talvez falasse para eu tomar cuidado. Sou uma pessoa muito apaixonada pelas coisas que gosto, e DW não é exceção. O problema com isso é que as vezes me envolvo em demasia com o fandom e isso sempre traz coisas muito boas e muito ruins, e eu ainda não consegui definir para onde a escala está pendendo com DW. Só quero deixar a mais uma dica pro pessoal: vejam a série clássica, leiam os livros e ouçam os áudios. É um mundo muito maior do que vocês imaginam e ainda mais fascinante.
Impulso HQ: Vocês promovem encontros de fãs. Quando será o próximo e como os interessados podem saber mais sobre isso?
Matheus Carvalho - Existem diferenças de nominação e da função de cada grupo/site aqui no Brasil. Por exemplo, alguns dos sites existentes hoje em dia viraram fã-clubes, outros almejam o mesmo. Nós do UW, apesar de ocasionalmente realizarmos eventos de pequeno porte e participarmos de outros eventos, apoiamos a realização de eventos pelos grupos locais. Pelo Whovians RS no Rio Grande do Sul, pelo WHOAC no Acre, pelo Whovians BA, PE. Nos parece mais válido que cada região tenha sua representação
Patrícia Duarte - Nosso próximo evento é em 7 e 8 de Dezembro, o Anima Heroes, onde teremos uma sala temática recheada de atividades, além de um painel sobre os 50 Anos de Doctor Who no palco Multiverso às 18h no domingo, dia 8 de dezembro
(www.animaheroes.com.br). Também estamos planejando uma atividade em um parque da cidade para antes do Natal, com informações em breve! É só ficar ligado nos nossos canais, ou falar diretamente com a gente, que dá pra ficar por dentro de tudo!
Yasmine Monteiro – Sempre que podemos fazemos encontros. Estamos bolando uma coisa legal para antes do episódio de natal, mas ainda é surpresa. Peço para o pessoal ficar de olho no Whovians RJ para mais informações que surgirão com o tempo.
Impulso HQ: Como o interessado pode entrar em contato com você?
Matheus Carvalho - É só ir no site
universowho.org. Lá tem todos os contatos da equipe.
Patrícia Duarte – Através da nossa fanpage
/WhoviansRS ou no nosso grupo de discussões bacanudo
/groups/whovians.rs.
Nosso e-mail é
whovians.rs@gmail.com e nossa webpage que está quase saindo do forno
www.whoviansrs.org, no twitter
@WhoviansRS e claro, comigo diretamente no
Facebook ou
Twitter. Muitos meios ~risos
Yasmine Monteiro - Podem entrar em contato pelo Whovians RJ, o melhor grupo de Doctor Who do Rio de Janeiro ou pelo nacional, o Whovians Brasil.